MATARACA: Empresa que apresentou ‘cidade internacional’ diz para Folha de S. Paulo que investidores desistiram do projeto
O empresário Jianing Chen, um dos CEO da Brasil CRT, empresa que revelou recentemente o projeto da Nova Mataraca e do Porto de Águas Profundas, no Litoral Norte da Paraíba, informou à Folha nesta segunda-feira (25) que desistiu do negócio. Chen explicou que investidores internacionais solicitaram o cancelamento do empreendimento e planejam realizar um projeto de investimento maior em outro estado do Brasil.
A decisão foi motivada pela desconfiança em relação aos números exorbitantes do projeto, bem como suspeitas de que o projeto apresentado ao público seria uma cópia de um projeto de um escritório dinamarquês para um distrito futurista em Shenzhen, no sul da China. Após a revelação do projeto copiado, o consulado da China no Recife afirmou desconhecer a empresa e suspeitar que se tratava de uma fraude.
Jianing Chen também mencionou que, durante a cerimônia, havia dois vídeos para serem exibidos, mas o primeiro foi deixado acidentalmente em um laptop em um hotel, resultando na exibição apenas do segundo vídeo. Ele afirmou que gostaram de algumas das novas ideias de design e planejavam incorporá-las ao projeto real de construção.
Além disso, a empresa Brasil CRT projetou um investimento de R$ 9 trilhões na região, um valor equivalente ao PIB do Brasil no ano passado e 450 vezes o Orçamento de R$ 20 bilhões da Paraíba previsto para 2024. No entanto, a empresa não possui site, telefone ou experiência prévia comprovada, apesar de apresentar um capital social de R$ 800 bilhões, quatro vezes o capital social informado no CNPJ da Petrobras, maior empresa do Brasil.
Com tudo isso, a promotora de Justiça de Mamanguape, Ellen Veras, resolveu instaurar “procedimento extrajudicial” para investigar o caso, disse o Ministério Público da Paraíba à reportagem.
Em apuração da Folha
De acordo com apuração da Folha, Bianca Bezerra, secretária de Cultura da cidade, afirmou que a região “perdeu de forma bruta e extrema a arrecadação” desde que uma mineradora encerrou as operações no local há três anos. A partir daí, governantes da região tentaram retomar um projeto antigo de construção de um porto.
“Nos últimos dois anos, a prefeitura vem pedindo junto ao governo do estado a oportunidade de abrir as portas para investidores colocarem o porto aqui, para aumentar o emprego e a renda. E então surgiu esse projeto”, conta.
Quem apresentou os chineses aos políticos da região, de acordo a reportagem, foi José Orlando, presidente da consultoria BNBR Brasil.
Em maio de 2021, conta Orlando à Folha, os chineses o procuraram em busca de terras na região para desenvolver um projeto de cidade. Primeiro, conheceu pessoalmente Gianninni Freitas, diretor de relações públicas, e o apresentou aos secretários estaduais Deusdete Queiroga Filho (Infraestrutura e dos Recursos Hídricos) e Gilmar Martins Santiago (Planejamento, Orçamento e Gestão).
Segundo ele, os chineses estavam interessados em 11 mil hectares na região. Eles não chegaram a fechar a compra de nenhuma terra, conta, mas negociaram em regime de permuta as áreas em troca de unidades habitacionais na suposta nova cidade.
Orlando afirma que foi surpreendido pelo valor anunciado de R$ 9 trilhões, porque durante as negociações a empresa falava em R$ 150 bilhões. Além disso, a nova cidade seria para 250 mil habitantes, não para 3 milhões.
Apesar da mudança expressiva, ele não endossa as suspeitas de fraude.
“Uma empresa não vai passar 36 meses buscando oportunidades de negócios, investindo milhares de reais com foco num determinado negócio para jogar tudo pela janela”, diz.
“A CRT Brasil não é administrada por aventureiros, e sim por empresários com expertise e que sabem aonde querem chegar”, afirmou.
A ideia do porto de águas profundas em Mataraca não é nova. Giovanni Giuseppe Marinho, superintendente do Patrimônio da União que esteve na cerimônia no dia 11, conta que há projeto para a criação do porto desde 2009.
Quando a Folha questionou a empresa como atrairia 3 milhões de pessoas para a região, o CEO Jianing Chen pediu que a reportagem “amplie sua visão de mundo”.
Com desenvolvimento de indústria de alta tecnologia, diz, com direito a “pesquisa em fusão nuclear” e “desenvolvimento da indústria aeroespacial”, o “objetivo é que a nova cidade possa acomodar 35 milhões de pessoas” e “crie direta e indiretamente 20 milhões de empregos”.
Questionado de onde a empresa tiraria R$ 9 trilhões, Chen afirmou que, “quando o projeto começar, vocês vão ver quais consórcios de investidores estão envolvidos”, antes de emendar com um provérbio: “Grilos de verão não podem falar sobre o gelo, e sapos de poço não podem falar sobre o mar.”
E quantos funcionários trabalham na Brasil CRT hoje? “Venha ver quantos trabalhadores estarão em nosso canteiro de obras no próximo ano. Certamente isso irá satisfazê-lo”, foi a resposta dos chineses.
Que experiência em construção a empresa tem? “Os consórcios estão envolvidos em milhares de grandes projetos de construção internacionais. Quando você olha para baixo de um voo internacional, muitos dos grandes edifícios podem ter a presença do consórcio.”/*Com informações de Jornal da Paraíba