DIA DE HORROR: Dos 2.301 casos de feminicídio em 2023, 438 ocorreram nos domingos
Entre janeiro e novembro de 2023, o Brasil registrou o alarmante número de 2301 mulheres vítimas de feminicídio. Desse total 1491 mulheres morreram e 810 sobreviveram aos ataques.
Ser mulher não é uma tarefa fácil no Brasil. Mas se você for uma mulher negra, entre 26 e 36 anos, de acordo com os dados do Laboratório de estudos de feminicídio, você estaria entre o terrível perfil de mulheres assassinadas no país. E os assassinos dessas mulheres seriam companheiros e ex companheiros, seguidos de membros da própria família.
Esses números que até novembro do ano passado chegaram 2301 mulheres nos mostram que existe algo extremamente perigoso, onde a justiça não alcança. Tivemos sim muitos avanços claro, a Lei maria da Penha é sem dúvida um excelente dispositivo legal, porém quando se verifica na prática conseguimos perceber o quanto nossa justiça, estão mal aparelhadas, com profissionais que em vez de auxiliar em alguns casos até dificultam que os casos sejam notificados. Profissionais em sua maioria formada por homens, recebem essas mulheres quase como agressoras, vítimas que são com profissionais muitas vezes brutalizados, por isso esses dados com absoluta certeza estão subnotificados.
Hoje é um domingo, e enquanto você lê essa matéria saiba que esse é o dia em que mais mulheres são assassinadas, de acordo com o Boletim que apura os casos de feminicídio, de janeiro a novembro do ano passado, 438 mulheres foram assassinadas em um domingo como esse, em que você lê essa matéria.
Esses dados são fruto do levantamento do Laboratório de Estudos de Feminicídios (LESFEM), da Universidade Estadual de Londrina, o Monitor de Feminicídios no Brasil (MFB) analisa dados da imprensa nacional, o que dificulta muitas vezes a taxa de acerto muitas vezes pela falta de uso de palavras que atribuam as notícias de crimes contra mulheres de forma menos misógina.
De acordo com o vínculo entre vítima e assassino, verifica-se que em primeiro e segundo lugar entre os feminicidas estão, marido e ex marido respectivamente. Em terceiro lugar estão parentes diretos como principais agressores.
Meios para a pratica dos crimes: O boletim destaca a arma branca como a principal “arma” para a prática dos crimes, com 972 casos, seguido de arma de fogo que vitimou 481 mulheres. Em terceiro lugar está o espancamento e/ou golpes fatais em decorrência desse tipo de violência.
ORFÃOS DO FEMINICÍDIO
De janeiro à novembro, 814 mulheres assassinadas no país tinham filhos menores de 18 anos.
Essas tragédias familiares trazem traumas profundos além de tirarem dessas crianças e adolescentes seus provedores principais. O governo Federal sancionou uma Lei em outubro do ano passado que prevê uma pensão especial para filhos e filhas de mulheres vítimas de feminicídio.
O estado da Paraíba ocupa a 14ª posição no ranking de feminicídios no país, registrando 3 mortes. Os cinco estados com as maiores quantidades de feminicídios foram:
1) São Paulo 333 casos.
2) Minas Gerais, 233 casos.
3) Paraná, 159 casos.
4) Rio de Janeiro, 138 casos.
5) Rio Grande do Sul 113 casos.
Não estamos seguras, não nos sentimos seguras, se você que é homem e está lendo essa matéria, talvez nunca poderá acessar essa insegurança premente que toda mulher já sentiu na vida, sua filha, sua mãe, esposa, irmã ou amiga.
Eu proponho um teste aos homens que se pretender amar verdadeiramente as mulheres da sua vida. Perguntem quais os medos dessas mulheres ao saírem às ruas desacompanhadas. E a esses mesmos homens meu lamento seria, será que o maior medo ou insegurança das mulheres podem ser suas atitudes, que minimizam micro violências? E nós mulheres, quando percebemos um homem do nosso ciclo agindo de maneira grosseira com sua esposa ou filha? Qual a nossa atitude diante do que consideramos “é o jeito dele” “eles se entendem”. Percebam meus questionamentos, a maioria dos abusadores e feminicidas tem histórico de violência verbal e psicológica.
Eu tenho dois filhos um rapaz de 20 anos e uma linda menina de 7 anos. Tenho a consciência de que meu filho é um homem que respeita e trata com o máximo de carinho todas as mulheres da sua vida. Minha filha Maya de 7 anos já sabe como comunicar e minimamente se defender diante de qualquer caso de violência. Eu própria não tive esse preparo dos meus pais, sou jornalista e recentemente fui vítima de violência, a agressão que sofri não foi física, por pouco não fui agredida fortemente por um homem com o dobro da minha altura e peso. Diante dos olhares da minha filha. Ele não era o pai dela. Mas depois daquele momento, em que ela viu a possibilidade de violências que uma mulher pode sofrer, me deu um peso no coração.
Queremos um mundo melhor, mais justo e menos violento para nossos filhos. E aquele momento ficará marcado nos olhinhos dela, eu falei filha, a mamãe não queria que você visse aquela briga, mas eu tive que me defender, Maya só falou, “mamãe ele foi muito mal com você, ta tudo bem.”.
Eu estou viva para poder contar essa história, minha filha não sofreu nenhum tipo de violência, mas em nome de todas as 814 mulheres que foram brutalmente assassinadas e deixaram seus filhos menores, eu vou continuar escrevendo, denunciando, não me sinto segura ainda, mas vou lutar até o último minuto para que cada vez menos mulheres percam suas vidas e que minha filha possa viver em um mundo menos misógino e doente. Minha arma é a escrita, e enquanto puder estarei assumindo um lado claro, o lado das mulheres, não existe imparcialidade enquanto mulheres mesmo assassinadas são violentadas até na forma como suas mortes são noticiadas.