“Não gostamos de negacionistas” da ciência econômica, diz Paulo Guedes
Em sua primeira entrevista coletiva desde que deixou o governo, o ex-ministro da Economia de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, afirmou na terça-feira (14) que faria mais privatizações se a antiga equipe econômica voltasse ao governo.
O ex-ministro fez uma defesa da ciência econômica. Segundo ele, existe “o certo e o errado em economia”, e ele e sua equipe “não gostam de negacionistas”.
“Temos que acreditar na ciência. Nós acreditamos na ciência, nós não gostamos dos negacionistas”, afirmou o ex-ministro.
Guedes discorria sobre o regime de capitalização da Previdência, defendido por ele durante o governo Bolsonaro, reiterando que a medida poderia ser uma alternativa ao déficit previdenciário.
“O Chile, quando fez o regime de capitalização, passou a crescer 5,5% por 30 anos seguidos”, afirmou.
“Existe o caminho da prosperidade, a ciência. Chamam-se ciências econômicas — e elas existem. E não são frouxas feito pensam, não. Pensam que economia é que nem futebol: pode-se falar qualquer coisa. Não. Você perde, você leva um país para a miséria”, disse Guedes, sem especificar ou nomear os críticos da ciência econômica.
Protocolo de crise
Guedes disse ainda que o governo Bolsonaro deixou um “protocolo de crise” para incidentes como os causados pelas chuvas no Rio Grande do Sul, baseando-se na atuação da antiga gestão durante a pandemia de Covid-19.
“Nós acreditamos e utilizamos os princípios que nós achávamos que o governo deveria atuar. Quando passamos recursos para estados e municípios, passamos recursos livres. Travamos uma série de despesas”, afirmou o ex-ministro.
“Se pessoas forem atingidas, as transferências de renda são diretas às pessoas — pelo Pix, por exemplo. Se empresas são atingidas, os recursos também são enviados diretamente para essas empresas, como nós fizemos com o Benefício Emergencial.”
Para Guedes, a melhor abordagem é atender e transferir os recursos diretamente para a pessoa ou instituição atingida. Segundo o ex-ministro, isso foi feito de modo a pensar “no melhor funcionamento da democracia”.
“Na verdade, é um governador que sabe como que o estado pode ajudar os municípios; e os prefeitos que, se receberem recursos livres, podem alocar melhor esses recursos baseando-se nos problemas que eles vivem. É ação local. De Brasília, você não sabe o que as cidades de Canoas ou Pelotas estão precisando”, defendeu.
As declarações foram feitas em coletiva de imprensa após o lançamento de um documentário chamado “O Caminho da Prosperidade”, que retrata sua gestão à frente da pasta. O evento reuniu cerca de 200 pessoas em um cinema de Nova York, nos Estados Unidos.
O filme, gravado entre 2019 e 2022, é dirigido pelo cineasta Paulo Moura e apresenta uma série de depoimentos de membros da equipe encabeçada por Paulo Guedes, tratando sobre o período em que o economista esteve à frente da gestão das finanças do país.
O documentário foi financiado pelo empresário Winston Ling.
“Lutamos juntos contra adversários imponderáveis, como a covid. Da mesma forma que muita gente nos ajudou, teve gente subindo em cadáveres para fazer política. Lembro de uma pessoa específica que trabalhava pelo impeachment [de Bolsonaro] que me disse: ‘Você tem que deixar o governo, pensar na sua biografia’. Respondi: ‘Leva um ano para fazer um impeachment e mais um ano para fazer uma eleição. Você prefere que durante dois anos o país viva um caos porque você quer atingir seu objetivo político?’. Isso para mim é ignóbil, é algo torpe e impensável. Cada um fez o melhor que pode, entre os que estavam bem-intencionados”, afirmou Guedes.
O ex-ministro relembrou alguns desafios à frente da pasta, apresentados durante o documentário.
“Você me pergunta: valeu a pena ficar lá em Brasília apanhando o tempo inteiro, de covid, da mídia, da oposição, dos ministros ‘fura-teto’? Valeu a pena. São 200 milhões de brasileiros que você pôde ajudar, porque eu tinha um time maravilhoso, formidável”, disse Guedes.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), esteve presente no evento e ouviu uma brincadeira de Guedes.
Ao ser indagado se Tarcísio seria presidente, Guedes, abraçando ao governador, respondeu em tom de brincadeira: “Esse cara é maravilhoso, melhor governador disparado no Brasil. É questão de tempo, vai ser presidente do Brasil, todo mundo já sabe disso”.
No dia anterior, na segunda-feira (13), a produção encomendou uma transmissão de 15 segundos em um telão na Times Square para a divulgação do filme. A produção do documentário não divulgou os custos para a veiculação do vídeo./Com informações da CNN Brasil