Bolsonaro sinalizou candidatura de Michelle após ser traído por Tarcísio de Freitas, que lança genérico do Bolsa Família em São Paulo em aceno a eleitores historicamente ligados a Lula.
Em meio à guerra deflagrada na ultradireita, com governadores se engalfinhando para disputar com Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) o posto de candidato anti Lula na direita “sem Bolsonaro”, Michelle Bolsonaro (PL) vem amenizando seu discurso radical evangélico a mando de aliados próximos do clã para encampar a alcunha de candidata de Jair Bolsonaro (PL).
A ex-primeira-dama teria sido aconselhada, em conversa recente com um aliado – segundo coluna de Bela Megale, no jornal O Globo -, a “não contrariar” o marido que, diante de iminente prisão, tem sinalizado que pode lançá-la na disputa presidencial em 2026.
A estratégia de Bolsonaro, anunciada nas redes por Silas Malafaia, foi desencadeada após Tarcísio trair o ex-chefe e articular, em Nova York, apoios para sua candidatura. Atual governador paulista, o ex-ministro vem sendo cortejado pelo consórcio da Terceira Via, que une uma parcela do Centrão, mídia liberal e Faria Lima, no projeto agora denominado Movimento Brasil, de uma direita sem Bolsonaro, propagado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).
Michelle teria ouvido o conselho – de não contrariar Bolsonaro quando ele sinalizar que ela é quem deve ser sua candidata – em silêncio, sem tecer comentários, sendo considerado um “avançao”, segundo a jornalista d’O Globo, com trânsito no bolsonarismo.
A ex-primeira-dama também foi aconselhada a amenizar o radicalismo evangélico em seus discursos, focando seus pronunciamentos em questões políticas.
Em sua conta no Instagram, principal rede social em que atua, Michelle já dá mostras de se afastar do radicalismo evangélico. A última publicação de cunha religioso se deu em 21 de abril, em nota de pesar pela morte do Papa Francisco, que não teve sequer o nome citado em publicação de Bolsonaro. O pontífice argentino era considerado um papa “comunista” pela ultradireita neofascista, que tem o bolsonarismo como braço no Brasil.
Nas publicações mais recentes, Michelle focou na pauta da anistia e na última no feed, em 14 de maio, celebrou os “77 anos de Israel”, uma pauta que ultrapassa a questão religiosa, em aceno ao apoio de sionistas no Brasil.
“Bolsa Família” paulista
Enquanto isso, de volta de Nova York, Tarcísio Gomes de Freitas faz movimentos para avançar sobre um eleitorado distante da ultradireita bolsonarista e lança nesta terça-feira (20) o “SuperAção SP”, um programa genérico ao Bolsa Família, que prevê a transferência de renda e uma “trilha” para tirar as pessoas da pobreza.
“Vamos dar o peixe ou ensinar a pescar?”, disse o governador ao Estadão, jornal porta-voz da burguesia paulista, que se alinha ao “movimento” de Temer.
“Nós vamos fazer as duas coisas. Transferência de renda é bem-vinda, mas não é suficiente. Algumas famílias precisam do peixe nesse momento e vamos garantir que elas sobrevivam, tenham dignidade e condições de iniciar uma trilha até chegar na inserção no mercado de trabalho”, emendou o governador, em apresentar novidades no programa em relação ao Bolsa Família, criado em 2003, no primeiro governo Lula.
Tarcísio e a esposa, Cristiane Freitas, estão usando a estrutura de comunicação do governo paulista para turbinar a presença nas redes sociais e avançar na disputa eleitoral.
Nos últimos meses, o casal tem feito vídeos mais produzidos, com linguagem direta – ao estilo “bandido bom é bandido morto”, mas sem radicalizar ao extremo – para fidelizar aliados no bolsonarismo e avançar sobre outros nichos eleitorais, necessários para uma vitória na disputa presidencial.
A primeira-dama paulista deve entrar mais no debate político e é sondada, inclusive, para ser candidata ao Senado pelo Republicanos – o que criaria mais rusgas com o clã do ex-presidente, visto que Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já se lançou candidato ao posto.