Governo estuda acionar Justiça contra derrubada de vetos ao “PL da Devastação”, diz Marina Silva

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou nesta sexta-feira (28) que o governo federal estuda judicializar a decisão do Congresso Nacional que derrubou 56 dos 63 vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Lei Geral do Licenciamento Ambiental apelidada por ambientalistas de “PL da Devastação” (Lei nº 15.190/2025). A declaração foi feita durante participação no programa Bom Dia Ministra, do CanalGov.

Segundo Marina, a recomposição dos trechos originalmente vetados representa um ataque direto ao arcabouço ambiental brasileiro e ameaça a capacidade de atuação de todos os órgãos de fiscalização. Por isso, segundo ela, não há alternativa além de avaliar uma ação no Supremo Tribunal Federal.

“Estamos considerando fortemente. Porque é inconstitucional você passar por cima do artigo 225 da Constituição Federal, que diz que todos os cidadãos e cidadãs têm direito a um ambiente saudável”, disse a ministra.

“Demolição” de regras históricas

Marina classificou a derrubada dos vetos como “uma verdadeira demolição” de normas consolidadas há décadas e que, segundo ela, evitaram inúmeras tragédias ambientais ao longo dos anos.

“Uma consolidação que, ao longo dessas décadas, evitou centenas de milhares de tragédias. A gente só olha para aquelas que, infelizmente, não foram evitadas”, afirmou.

A ministra alertou que, ao flexibilizar drasticamente o licenciamento ambiental em meio ao agravamento da crise climática, o país ficará ainda mais vulnerável.

Licença por Autodeclaração preocupa governo

Entre os dispositivos restaurados pelo Congresso está a chamada Licença por Autodeclaração, que permite ao próprio empreendedor declarar que está em conformidade com a lei mecanismo criticado por órgãos ambientais e especialistas.

“Só para você ter uma ideia, a Licença por Autodeclaração é o empreendedor dizer que está em conformidade com a lei em casos como os de Mariana e Brumadinho”, comparou Marina.

Ela destacou que a ausência do Estado estabelecendo regras, padrões e fiscalização pode gerar “descontrole” e comprometer a segurança socioambiental.

Críticas ao discurso de modernização

A ministra rebateu ainda o argumento de parlamentares favoráveis ao texto de que a flexibilização traria “modernidade” e “desenvolvimento” ao setor produtivo.

“O discurso de modernidade é para disfarçar retrocessos. A gente não pode imaginar que as leis ambientais são para atrapalhar o desenvolvimento. Não há desenvolvimento sem clima equilibrado”, concluiu.