A reviravolta política ocorrida na cidade de Cajazeiras, onde líderes e grupos políticos antagônicos fizeram um movimento inédito de convergência em torno da pré-candidatura do vice-governador Lucas Ribeiro (Progressistas) ao governo espelha o papel relevante exercido pelo deputado federal Aguinaldo Ribeiro, comandante do PP, na costura dos apoios ao projeto representado pelo sobrinho postulante. Em Cajazeiras, o ex-prefeito José Aldemir e seu esquema distanciaram-se do bloco de João na campanha municipal quando o governador declarou apoio à pré-candidatura do deputado e seu líder na Assembleia Chico Mendes, contrariando a expectativa de José Aldemir por apoio à sua candidata. A divergência escalou ao ponto de José Aldemir e sua sucessora anunciarem apoios às candidaturas do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e do prefeito de Patos Nabor Wanderley (Republicanos) ao Senado, rechaçando qualquer entendimento com o governador João Azevêdo.
Como expoente do Progressistas e tio de Lucas, Aguinaldo Ribeiro sentiu a necessidade de atuar estrategicamente para minar resistências à construção da unidade em torno da chapa oficial – um processo que permanece em aberto pela indefinição reinante sobre quem ocupará a vaga de vice-governador, e avaliou o caso de Cajazeiras como especial e da sua responsabilidade devido ao potencial do grupo de José Aldemir nos quadros do PP. Nos meios políticos o “caso Cajazeiras” era tido como emblemático da dificuldade que Lucas teria nas próprias hostes para arregimentar apoios e passou a ser acompanhado com interesse por líderes políticos diversos quanto ao seu desfecho. A reviravolta não estava na lógica do radar dos analistas políticos, que consideravam impossível José Aldemir romper com Veneziano e passar a apoiar o governador João Azevêdo. Foi exatamente o que aconteceu.
A salada política na cidade do Alto Sertão junta, ainda, o deputado estadual Júnior Araújo (PSB), que hipotecou apoio à pré-candidatura de João Azevêdo, bem como a deputada Dra. Paula Frassinetti, mulher de José Aldemir. A Dra. Paula teria sido decisiva para que o marido se reconciliasse com João, e o desenho da nova composição em Cajazeiras surpreendeu círculos políticos como um sinal de que as reviravoltas deverão ser a tônica da campanha eleitoral de 2026. A construção bem articulada pelo deputado Aguinaldo Ribeiro acabou originando, praticamente, uma situação de pacificação política entre grupos rivais na terra que ensinou a Paraíba a ler e demonstrando o poder de fogo dos estrategistas do bloco governista capitaneado por João Azevêdo. A oposição, representada pelos senadores Efraim Filho (União Brasil) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB) tem trabalhado para cindir o esquema oficial – e Veneziano já vinha colecionando apoios ao seu projeto, mesmo dividindo-os com o governador, de quem é adversário. Agora, a sensação é de endurecimento do jogo por parte do bloco oficial. João Azevêdo já havia dito que cobraria lealdade à chapa majoritária composta do seu esquema, que até agora tem como expoentes o vice-governador Lucas Ribeiro, ele próprio e o prefeito Nabor Wanderley ao Senado. Numa articulação conduzida diretamente pelo chefe do Executivo o deputado Adriano Galdino (Republicanos), presidente da Assembleia Legislativa, já havia informado desistência da sua pré-candidatura ao governo do Estado, que teoricamente deveria durar até este mês de dezembro, e em paralelo anunciou engajamento na campanha de Lucas Ribeiro. Nas tratativas ensaiadas, de acordo com o que vazou para a imprensa, fica assegurada a prioridade de hegemonia para o Republicanos no comando da Assembleia Legislativa do Estado nos próximos biênios. Por discordar das posições e ter a ambição pessoal de ser candidato a governo o prefeito Cícero Lucena (MDB) rompeu com João e aliou-se a Veneziano. Mas os exemplos de Adriano Galdino e José Aldemir parecem indicar que uma eventual sangria está estancada nas hostes governistas.
A oposição começa a levar a sério a ofensiva dos estrategistas políticos palacianos, por ter sinalizado que há espaço para reverter situações e impor surpresas num cenário político-eleitoral ainda com perspectiva de fragmentação na realidade da Paraíba. Mas um histórico de certos fatos ajuda a entender movimentos que já foram deflagrados. Em 2022, Aguinaldo Ribeiro abriu mão de uma candidatura a senador que lhe foi oferecida por João Azevêdo na chapa à reeleição e patenteou que seu projeto envolveria uma reeleição à Câmara dos Deputados. Em contrapartida, indicou o nome do sobrinho, Lucas, filho da senadora Daniella Ribeiro, para vice de João, o que se confirmou no balanço das urnas do segundo turno contra o ex-deputado Pedro Cunha Lima (PSD). Para 2026 todas as fichas do “clã” estão focadas na eleição de Lucas ao governo. Foi em nome dele que a mãe, Daniella, abriu mão de concorrer à reeleição ao Senado, facilitando rearranjos e composições que acabaram privilegiando Nabor Wanderley, pai do deputado federal Hugo Motta, líder do Republicanos no Estado. O que se nota é que PSB de João, o PP de Aguinaldo e o Republicanos de Hugo Motta estão alinhados e obstinados na concretização de um projeto de poder que, apesar de representar a continuidade administrativa, também representa nova perspectiva de liderança no eixo das forças políticas de expressão que atuam na realidade local em busca de espaços de poder.





