Com Flávio Bolsonaro em campo, terceira via volta ao debate, mas esbarra na força da polarização

Segundo informações do jornalista Gustavo Zeitel, da Folhapress, a sinalização do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) de que sua candidatura presidencial seria irreversível recolocou no centro do debate eleitoral a possibilidade de uma terceira via, ao mesmo tempo em que indica a tendência de repetição do confronto político entre o bolsonarismo e o presidente Lula (PT). Ao se apresentar como herdeiro do capital político do pai, Flávio reforça o peso da polarização que marca o cenário nacional desde 2018.

O movimento ocorre em meio a uma série de iniciativas que tentam construir uma alternativa ao embate entre Lula e Jair Bolsonaro. Entre os nomes citados está o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), apontado como preferido do centrão. Paralelamente, o deputado federal Aécio Neves, recém-empossado presidente do PSDB, afirma trabalhar na articulação de um projeto de centro-direita, embora descarte uma nova candidatura presidencial.

Apesar dessas articulações, analistas avaliam que a viabilidade da terceira via segue limitada. Aécio reconhece a perda de protagonismo do PSDB, que nas eleições de 2022 elegeu apenas 13 deputados federais, três senadores, três governadores e 270 prefeitos, e tenta relativizar o encolhimento da legenda após o fracasso da fusão com o Podemos.

Outros atores da direita também demonstram interesse em se distanciar do bolsonarismo. O líder do PP na Câmara, deputado Doutor Luizinho (RJ), afirmou que o partido se sente livre para construir uma candidatura que não esteja vinculada a Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, o lançamento do partido Missão, ligado ao MBL, projeta uma oposição de direita ao bolsonarismo nas eleições de 2026, com candidaturas previstas para o Planalto, o Congresso e governos estaduais.

A possibilidade de um candidato outsider também voltou a ser discutida após pesquisa da Quaest indicar que 24% do eleitorado preferem votar em alguém sem ligação com Lula ou Bolsonaro. A hipótese, no entanto, é vista com cautela por lideranças partidárias e especialistas, que apontam riscos na negação da política institucional.

Para o cientista político Leonardo Belinelli, da UFFRJ, o desempenho político de Lula e a influência de Jair Bolsonaro, mesmo preso, dificultam o fortalecimento de uma alternativa fora da polarização. Segundo ele, a direita ainda precisaria dialogar com o ideário bolsonarista para alcançar viabilidade eleitoral. Belinelli também observa que a figura do outsider costuma emergir em contextos de fragilidade das lideranças tradicionais, cenário distinto do atual.

Na mesma linha, o professor Pedro Lima, da UFRJ, avalia que a fragmentação da direita pode acabar favorecendo a reeleição de Lula em 2026. Ele destaca que, embora o discurso do outsider dialogue com sentimentos antipolítica, esses candidatos acabam buscando alianças ao assumir o poder. Lima ressalta ainda que, nos últimos anos, todos os outsiders surgiram à direita do espectro político, já que o PT mantém controle institucional do campo progressista.