“A Cannabis Salvou Minha Vida”: Uma história de luta contra o câncer e o papel da Paraíba no uso medicinal de maconha
Paraíba na Vanguarda: na produção de cannabis medicinal luta e esperança
“MEU REMÉDIO NÃO É DROGA”; A cannabis “salvando vidas”; Conheça o protagonismos da Paraíba, no plantio, produção e auxílio de pacientes graves
“Meu remédio não é droga”, com essa frase estampada na camiseta, Catarina Leal, uma mulher de 41 anos, ilustra sua trajetória de vida e principalmente de sobrevivência. A história de Catarina tem um ponto muito desafiador, ela descobriu um câncer de mama, à cinco anos, e iniciou um doloroso tratamento quimioterápico, com duas filhas e sofrendo com náuseas, dores e a falta absoluta de apetite, Catarina foi apresentada a um tratamento polêmico e que até hoje continua coberto de preconceitos e informações equivocadas.
Catarina contrariando seus familiares, iniciou o uso medicinal de Cannabis, (de maneira não oficial no primeiro momento) e de acordo com ela, já no primeiro dia, ela já conseguiu se alimentar, as náuseas diminuíram, e as dores também. O ano que ela começou o tratamento do câncer e o uso “informal” medicinal da Cannabis, era 2019, enquanto amamentava a sua filha que hoje tem 9 anos.
“Deus tinha me escolhido ali para viver uma história diferente”, falou Catarina, que engravidou e deu à luz a uma criança em meio a um tratamento de câncer.
Com um sério problema de déficit alimentar, tendo extrema dificuldade em se alimentar. Catarina mesmo antes da doença já sofria com problemas decorrente do baixo peso, insônia e muitas dores. No final de ciclo de quimioterapias, ela descobriu que estava novamente grávida, fato que por si só já era extremamente arriscado, mas mesmo assim, ela teve sua filha, que nasceu sem nenhuma sequela, e após o nascimento da filha, retomou seu tratamento quando a filha estava com cinco meses.
O câncer de Catarina havia voltado e dessa vez uma metástase óssea, (uma forma bastante agressiva e debilitante de metástase). Após a primeira sessão desse novo tratamento quimioterápico, ela recebeu de uma amiga, um presente que mudaria sua vida, um frasco contento óleo de CBD. E a forma potencializada que o óleo trouxe em benefícios e melhora da qualidade de vida, levaram Catarina a buscar formas legais para garantir o acesso aos produtos que a “mantiveram viva” usando palavras dela, que inclusive frisou que ela de acordo com os médicos nem conseguiria continuar andando, e contrariando mais uma vez todas previsões, ela segue com seu tratamento e agora, levanta a bandeira do uso medicinal de produtos à base de Cannabis, ela conseguiu acesso com preço social aos produtos graças a Associação Abrace esperança.
A primeira associação do Brasil com autorização para plantio e produção de Cannabis para uso medicinal
A associação Abrace esperança nasceu da obstinação de Cassiano Teixeira, diretor e fundador da Abrace. Cassiano iniciou sua trajetória com produtos à base de Cannabis, para ajudar seu irmão que tinha crise epilépticas, e por conta própria (ainda sem autorização judicial) plantava e produzia os produtos que aliviavam os sintomas do seu irmão. E em meados de 2014, com as demandas e os valores extremamente altos dos produtos, ele se empenhou em fazer disso uma causa mais abrangente, e no dia 27 de abril de 2017, a associação conseguiu pela primeira vez no Brasil, através de liminar, o que seria a primeira concessão empresarial para plantio e produção de produtos à base de Cannabis.
Com rigorosíssimo controle, entrada, produção, fiscalização, e mais importante, distribuição com valores muito mais acessíveis, a Abrace hoje produz para associados que inclusive podem conseguir os produtos de forma gratuita, se comprovarem a condição financeira para tal. No ano de 2019 a associação, atendia cerca de 750 pessoas. E qualquer pessoa com laudo médico e comprovação de diagnóstico pode comprar produtos, seguros e certificados, com valores infinitamente mais baratos do que produtos importados.
Pesquisa pioneira para uso seguro de produtos à base de Cannabis em crianças com autismo
A paraíba além de pioneira na autorização para plantio, tem outro exemplo de vanguarda na pesquisa de uso medicinal de Cannabis em crianças com autismo.
O psiquiatra paraibano, Estácio Amaro, que também é o atual coordenador do curso de medicina da UFPB, desenvolveu um estudo clínico para o seu doutorado na UFPB, avaliou a eficácia do uso de Cannabis em crianças entre 5 e 12 anos diagnosticadas no espectro autista TEA. O extrato de Cannabis rico em CBD da associação de pacientes da Abrace Esperança foi usado para melhorar a interação social, um dos critérios diagnósticos para TEA, bem como características frequentemente coexistentes. A pesquisa está ganhando o cenário internacional, a partir da publicação no jornal alemão. Outros estudos têm demonstrado que as substâncias derivadas da cannabis melhoram a qualidade de vida dessas crianças sem causar efeitos colaterais graves. É, portanto, uma alternativa para garantir a possibilidade da melhoria do dia a dia dessas pessoas com autismo.
Leia a pesquisa na íntegra aqui
Conversamos com dr. Estácio que destacou o que muitos pesquisadores de diversos países já comprovaram, o uso de produtos à base de Cannabis, além de eficaz, é seguro, mesmo em crianças, e os resultados obtidos no seu estudo foram animadores, e servem de base para médicos, familiares e pesquisadores, no caso específico de TEA, onde Estácio se destaca com seu trabalho clínico e dentro da academia.
O uso da Cannabis medicinal vem aumentando e já existem muitos estudos demonstrando que se trata de uma intervenção terapêutica eficaz e segura, inclusive em crianças, como comprovado por um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e placebo controlado, que é padrão ouro, na pesquisa, para avaliar a ação de um medicamento, para crianças de 5 a 12 anos incompletos com o transtorno do espectro autista. Esse estudo realizado por mim e colaboradores se tratou da minha tese de doutorado em Neurociência Cognitiva e Comportamento pela Universidade Federal da Paraíba sobre o uso do extrato da Cannabis rico em canabidiol para crianças com TEA. E os resultados foram significativos para um dos sintomas nucleares do transtorno, mostrando melhora da interação social, além da melhora estatisticamente significativa também para agitação psicomotora, padrão alimentar, concentração, sono. Importante frisar que o estudo teve duração de 12 semanas, mas que já foi o suficiente para demonstrar eficácia e segurança da cannabis.
“Eu diria que o estudo já teria valido a pena só por ele. Recebo do nada um vídeo da mãe falando: Dr. Estacio, foi ele quem pediu para eu gravar ele comendo coisas que não comia de jeito nenhum antes e mandar para “Doutor Estácio”, além de ter melhorado significativamente a linguagem verbal, pois passou a formar frases, que não conseguia antes. A mãe me enviou 4 vídeos: um ele comendo legumes e frutas, outro aceitando alimentos de consistência e cor que não aceitava antes, outro com melhora do desempenho escolar (respondendo às questões que a professora ia fazendo e escrevendo, o que tinha muita dificuldade antes) e outro brincando com mais 3 crianças. Tudo isso passou a acontecer a partir do uso do extrato da cannabis, e ele não teve nem um efeito colateral. ” Avaliou Dr. Estácio.
O principal objetivo desse estudo é avaliar, através do acompanhamento psiquiátrico, farmacêutico e neuropsicológico, o efeito do produto à base de Cannabis sativa rico em Canabidiol, como adjuvante terapêutico, em crianças com o Transtorno do Espectro Autista. Além de avaliar efeitos colaterais e adversos, detectar se há ou não interação medicamentosa entre o CBD e outros fármacos usados pelo paciente e caso haja, procurar resolvê-la.
Doutor Estácio que é uma referência nos estudos e tratamentos de crianças autistas no estado, além do seu trabalho na coordenação do curso de medicina, ele possui vasta experiência clínica no tratamento e auxílio a crianças dentro do espectro e seus familiares.