Apelo de Lula pode ser decisivo para Azevêdo disputar Senado – Por Nonato Guedes

Aliados políticos do governador da Paraíba, João Azevêdo, que defendem a candidatura deste ao Senado nas eleições de 2026, consideram que a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no congresso nacional do PSB, pedindo para que os partidos do campo da esquerda se preocupem em eleger bancadas fortes de senadores e deputados federais, para tentar barrar o avanço da extrema-direita, poderá ser decisiva para levar o chefe do executivo estadual a aceitar o desafio de concorrer. Até agora, João tem sido reticente sobre essa candidatura – já a admitiu algumas vezes, chegando a dizer que seria uma espécie de “Plano A” seu, mas em outras vezes tem empurrado uma palavra final para o ano eleitoral propriamente dito, justificando estar focado no segundo mandato à frente do Executivo. O seu entorno político está dividido entre os que desejam vê-lo como candidato e os que defendem sua permanência no cargo até o último dia do mandato.
A preocupação de Lula quanto ao futuro do Congresso, especialmente da composição do Senado Federal, tem sido externada a diferentes interlocutores e tem a ver com a ofensiva que a direita bolsonarista prepara para fazer maioria naquela Casa nas disputas vindouras. O presidente insinuou que se representantes do bolsonarismo conseguirem êxito na sua estratégia poderão fazer “uma muvuca neste país” e tentar avacalhar com o Supremo Tribunal Federal, mediante manobras para impeachment de ministros que não são considerados da confiança das forças de direita. A animosidade tem sido constante entre o ex-presidente e apoiadores seus e ministros da alta Corte de Justiça e a radicalização se intensifica com a conclusão do julgamento dos processos relativos aos atos anti-democráticos de 8 de janeiro, com iminente ordem de prisão contra Bolsonaro e outros expoentes do chamado “staff golpista”, também conhecido como “núcleo crucial”.
Os bolsonaristas e os líderes do Centrão, conforme revelou reportagem do UOL, fizeram um acordo para tentar eleger 44 senadores no próximo ano. O ex-presidente teria se comprometido a utilizar todo o seu empenho e prestígio com esse objetivo, escolhendo candidatos de diferentes partidos que, em diversos Estados e no Distrito Federal, tenham potencial para se eleger ao Senado. A ofensiva se estende, inclusive, pelo Nordeste, que na última eleição presidencial demonstrou ser um reduto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que ainda projeta governadores alinhados com a esquerda e a centro-esquerda, a exemplo do paraibano João Azevêdo. Analistas políticos falam numa “dobradinha” João Azevêdo-Veneziano Vital do Rêgo (MDB) apoiada por Lula e pelo PT, embora o governador e o atual senador tenham rompido politicamente e até se enfrentado na campanha pelo Executivo em 2022.
O presidente da República não esconde suas afinidades, tanto com Veneziano como com João Azevêdo e, lá atrás, chegou a demonstrar inquietação com as informações de que, na Paraíba, o senador emedebista teria se aproximado do esquema Cunha Lima, hoje no PSD e tido como simpatizante do bolsonarismo. Na estratégia geral que traça para o panorama eleitoral de 2026, Lula vislumbra dificuldade para o triunfo de políticos filiados ao Partido dos Trabalhadores e, por isso, aproveita o fato de que seu governo é de coalizão para investir em filiados de outros partidos que possam lhe assegurar sustentação política na hipótese de reeleição, para a qual se encaminha induvidosamente. A ida do presidente ao congresso nacional do PSB foi encarada como sintomática da estratégia lulista para acumular forças com vistas a infligir derrotas ao bolsonarismo e aos segmentos da direita conservadora no país.
O apelo de Lula no congresso socialista repercutiu profundamente na Paraíba, principalmente entre os aliados do governador João Azevêdo que pugnam pela candidatura deste ao Senado. A avaliação é de que o governador paraibano reforçou seu cacife ou lastro junto ao mandatário e poderá dispor da retaguarda federal se concretizar o projeto de assumir a candidatura a senador. No próximo ano estarão em jogo os mandatos dos senadores Veneziano Vital do Rêgo (MDB) e Daniella Ribeiro (PP), eleitos em 2018. Ambos teoricamente concorrerão à reeleição, mas, entre os dois, Veneziano é o mais ostensivo. João Azevêdo tem sido cobrado por apoiadores a ser incisivo no projeto de candidatura – e a expectativa é de que isto venha a acontecer daqui para a frente, diante da manifestação explícita de simpatia do presidente Lula por uma candidatura sua.