
Tarcísio agradeceu Lula por priorizar obra aguardada há quase 100 anos no litoral paulista “sem disputas políticas”. Bolsonaro se enfureceu por elogios.
A meta é não deixar transparecer publicamente, mas Jair Bolsonaro (PL) teria mostrado toda sua fúria ao ver a troca de gentilezas entre Lula e o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), seu ex-ministro e possível candidato da ultradireita em 2026, no lançamento do edital para a construção do túnel entre Santos e Guarujá, que aconteceu nesta quinta-feira (27) na Baixada Santista.
Em seu discurso, Tarcísio rasgou elogios a Lula por dar prioridade à obra, esperada há quase um século.
“Tudo que está acontecendo hoje podemos dizer que é o dia da vitória e prova que é possível deixar de lado as diferenças para o bem da população”, acrescentou Tarcísio.
Em seguida, Lula se dirigiu a Tarcísio ressaltando a necessidade de que relações institucionais entre os entes federados pesem mais a importância de atender à população, independentemente de divergências políticas. E mencionou um exemplo.
“Eu vou, Tarcísio, possivelmente na semana que vem, a um estado que tem um governador que mais fala mal de mim. Eu vou no Porto de Itajaí fazer aquilo que tem que ser feito, porque ele ficou parado quase dois anos e vamos colocar aquele porto, que é o segundo maior porto de contêineres do Brasil, para funcionar”, afirmou Lula, sem mencionar nominalmente o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL).
O presidente também citou a parceria com Tarcísio para viabilizar projetos importantes no estado de São Paulo, mesmo que isso desagrade algumas pessoas.
“Tem gente do lado do Tarcísio que não gosta de vê-lo ao meu lado. E tem gente do meu lado que não gosta de me ver do seu lado”, disse Lula, se dirigindo ao governador. “O que temos que ter consciência é de que nós só temos um lado: atender bem ao povo de São Paulo e ao povo do Brasil”, resumiu.
Lula disse, ainda, que seu governo está restabelecendo a normalidade das relações institucionais. “Ninguém precisa concordar com ninguém, ser da mesma religião, torcer para o mesmo time, almoçar na mesma mesa. O que temos que ter em conta é o que estamos fazendo quando a gente governa um estado, um país ou uma cidade. Nós não fomos eleitos para brigar, fazer desaforo com os outros. Fomos eleitos para compartilhar nosso esforço e fazer com que o povo sinta prazer em ser governado por alguém que está preocupado com ele”, prosseguiu o presidente, alfinetando seu antecessor.
O clima gentil se estendeu nos bastidores, segundo interlocutores de Lula e Tarcísio.
Timing
Aliados afirmaram que a gentileza entre o presidente e seu ex-ministro enfureceu Bolsonaro.
Segundo a coluna de Bela Megale, no jornal O Globo, aliados do ex-presidente disseram que “ele mostrou surpresa com o tom da troca de elogios e passou o recibo de que não gostou do que viu”.
No entanto, a ordem é não deixar transparecer e evitar críticas públicas a Tarcísio para não “escalar o episódio”.
Bolsonaro teria dado chilique especialmente por causa do que classifica como timing político.
Para aliados, a ira do ex-presidente se deu por Tarcísio elogiar Lula justamente em um momento onde o petista enfrenta queda na popularidade e em meio à investida de Donald Trump, incitado pelo filho, Eduardo Bolsonaro.
Para Bolsonaro, o momento é de enfatizar a narrativa de que Lula está comandando uma “ditadura”, versão propagada por Eduardo nos EUA.