Cícero dá o primeiro passo concreto para oficializar candidatura – Por Nonato Guedes

O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, avançou, no fim de semana, na sua estratégia para firmar-se como pré-candidato ao governo do Estado nas eleições de 2026, ao prognosticar em Borborema, no Brejo, que está de saída do Progressistas (PP) e que logo anunciará o novo partido a que vai se filiar juntamente com o seu grupo político. Ao fazer a declaração ao lado do senador Veneziano Vital do Rêgo, Cícero reforçou especulações de que o MDB será a legenda que ele escolherá a fim de dar suporte à sua pretensão, mas como é praxe em episódios do gênero, o alcaide pessoense fez suspense e deixou no ar a indefinição, ressaltando que o partido “será surpresa”. Além do MDB, ele é cortejado pelo PSD, presidido pelo ex-deputado Pedro Cunha Lima, que ascendeu ao comando em manobra ardilosa que destronou a senadora Daniella Ribeiro.

Lucena prometeu, ainda, que vai expor suas ideias para a população paraibana sobre programa de governo para o Estado. O que não está definido é o posicionamento do prefeito da Capital na realidade política local, ou seja, se ele vai evoluir para um rompimento com o governador João Azevêdo (PSB), que tem sido seu parceiro desde que Cícero, de forma espetacular, fez o caminho de volta ao cenário político e à titularidade da prefeitura, lançando-se candidato em 2020 e já aí saindo vitorioso, numa disputa em segundo turno contra Nilvan Ferreira, que fora lançado pelo MDB do então senador José Maranhão como fenômeno na conjuntura local. Para essa batalha, Lucena contou com toda a estrutura e apoio do “clã” Ribeiro, através do deputado federal Aguinaldo e da senadora Daniella, e voltou a dispor de reforço quando, em 2024, candidatou-se à reeleição e deu combate, no segundo turno, ao candidato bolsonarista Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde do governo do ex-capitão.

Nesses momentos difíceis, que significaram muito para a sua “reentrée” no quadro político-partidário estadual, Cícero Lucena teve a indiscutível solidariedade do governador João Azevêdo, que, a bem da verdade, movimentava-se para forjar uma candidatura influente a prefeito no maior colégio eleitoral da Paraíba, atento aos seus próprios interesses. Houve, por assim dizer, uma conjunção astral favorável que uniu Cícero a João Azevêdo e aos Ribeiro. Esse cenário positivo ganhou dimensão com a parceria administrativa bem-sucedida entre o governo de João e a nova gestão de Cícero, devolvendo à Capital paraibana a relação de sintonia entre os gestores do Estado e do município, com inflexão escalada até Brasília, dada a posição de João Azevêdo de aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O êxito das novas administrações de Cícero deve ser compartilhado, no registro histórico, com a colaboração efetiva do governador socialista, que primou para que o entrosamento fosse constante em favor da população.

O distanciamento de Cícero da base governista estadual tem como pivôt a queda-de-braço dentro do PP, onde o vice-governador Lucas Ribeiro, sobrinho de Aguinaldo e filho da senadora Daniella, parece ter conquistado a preferência do governador João Azevêdo para candidatar-se à sua sucessão pelo esquema. Cícero não só passou a contestar uma provável imposição do nome de Lucas, que teve o reforço do Republicanos presidido pelo deputado federal Hugo Motta, como tornou-se irresignado a ponto de persistir no projeto concorrente de ser candidato ao Palácio da Redenção. O sonho foi turbinado por pesquisas informais de intenção de voto que o apontam na liderança do páreo, destronando nomes como o de Lucas ou o do senador Efraim Filho (União Brasil), que se apresenta como candidato bolsonarista e da oposição. Cícero passou a alimentar a expectativa de vir a ser adotado pelo governador e pelos seus liderados, mas isto não aconteceu e ele sentiu que a batalha lhe seria inglória nas hostes governistas.

Decidiu-se, então, por construir seu próprio espaço, com autonomia de diálogo com adversários do governador João Azevêdo, a exemplo do senador Veneziano Vital do Rêgo, que enfrentou João em 2022, e do ex-deputado Pedro Cunha Lima, que foi para o segundo turno contra o chefe do Executivo e perdeu, ainda que por diferença estreita. O ingresso de Cícero no campo da oposição, à primeira vista, divide a própria oposição, enfraquecendo-a para a disputa majoritária de 2026, pois o senador Efraim Filho já deixou claro que não abre mão da pré-candidatura, e o ex-deputado Pedro Cunha Lima segue alinhado com Efraim, imbuídos – ambos – do desejo de derrotar a liderança do governador João Azevêdo. Veneziano é um líder respeitado, até pela excelente interlocução que tem com o presidente Lula e por ser um dos favoritos ao Senado, cuja reeleição pleiteará, mas não parece agregar grande potencial para reforçar Cícero, além da incipiente estrutura do MDB, na hipótese de uma candidatura. Seja como for, Cícero ensaia o script do que pode vir a ser a tão decantada cisão no bloco governista, “pedra” que era cantada por oposicionistas como o senador Efraim Filho desde o início das tratativas para a sucessão estadual.