O líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), ampliou na quarta-feira sua vantagem na disputa pelo comando da Câmara e caminha para se eleger, praticamente por aclamação, presidente da Casa pelos próximos dois anos. Após os deputados Antonio Brito (PSD-BA) e Elmar Nascimento (União-BA), cotados para concorrer ao cargo, oficializarem na quarta-feira a desistência da disputa, tanto o União Brasil quanto o PSD anunciaram que vão embarcar na aliança de Motta. Com o apoio das legendas, o candidato do Republicanos tem agora um bloco partidário que representa 488 dos 513 deputados federais — são necessários 257 votos para ganhar a eleição em primeiro turno.
O anúncio de Antonio Brito ocorreu logo após uma reunião da bancada do partido na Casa, com a participação do presidente do PSD, Gilberto Kassab.
— Após conversas com o candidato Hugo Motta e o debate que trouxemos sobre a proporcionalidade e do cumprimento do tamanho do partido na Casa, a bancada decidiu pela minha proposta de retirar a candidatura a presidente da Câmara — disse o parlamentar.
Brito afirmou que há expectativa de o PSD indicar a presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO) em 2026 e também declarou que a legenda deve manter os espaços que tem hoje na gestão de Arthur Lira (PP-AL), como a corregedoria da Câmara e a terceira secretaria da Mesa Diretora. O líder do PSD também afirmou que irá comandar o bloco que reúne MDB, PSD, Republicanos e Podemos até 3 de fevereiro, dia da eleição para o comando da Câmara.
Antes da fala de Brito, Kassab fez um pronunciamento e elogiou o correligionário:
— Definimos com nosso líder, que conduziu a nossa reunião e vai continuar conduzindo nossa bancada com muita competência, maestria e seriedade. — afirmou. — O Antonio Brito, nosso líder, vai fazer as colocações que estão balizando as decisões do partido e com isso a gente vai olhar para frente e pensar no Brasil.
Vista como certa há semanas nos bastidores, a desistência de Elmar Nascimento foi anunciada na quarta-feira pelo próprio líder do União Brasil na Câmara durante reunião com deputados da legenda. O presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e Motta também participaram do encontro. Na reunião, Elmar confirmou que ele e seu partido vão embarcar no bloco pró-Hugo Motta.
O União Brasil já havia decidido desde o fim de outubro compor com Motta. A avaliação do partido é que era preciso evitar que a legenda ficasse escanteada dos espaços da Câmara. No entanto, o anúncio oficial não aconteceu imediatamente porque a legenda ainda negociava os espaços que deve ter na Casa a partir do ano que vem.
Nas últimas semanas, o líder da legenda e outros membros da cúpula do União Brasil negociaram com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e com o candidato do Republicanos a definição dos cargos que devem caber à sigla a partir do ano que vem. Elmar disse ao GLOBO que a legenda vai ter a relatoria do Orçamento no ano que vem e a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em 2026.
Em 2025 quem deverá indicar o comando da CCJ é o MDB, que disputava o Orçamento com o União. O partido de Elmar deverá ter ainda a segunda secretaria da Mesa Diretora da Câmara.
Motta já tem oficialmente o aval do PL, PT-PCdoB-PV, PP, PSD, Republicanos, MDB, PDT, PSDB-Cidadania, PSB, Podemos, Solidariedade, PRD e Rede. A expectativa é que apenas PSOL e Novo não se aliem ao candidato.
Na terça-feira, Motta também recebeu apoio da Frente Parlamentar Evangélica, uma das principais bancadas da Casa. O apoio foi selado durante jantar com Lira e deputados do grupo, entre eles o coordenador da frente na Câmara, Silas Câmara (Republicanos-AM), e o senador Carlos Viana (Podemos-MG), que coordena a bancada no Senado.
Após arrebanhar o apoio das principais forças da Casa, Motta agora terá que mediar conflitos internos. Ao reunir as maiores bancadas e esvaziar os adversários, o desafio será acomodar interesses. O PT , por exemplo, já tem apalavrado com Lira e o próprio Motta uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU), embora essa sinalização tenha irritado parte da oposição.