Como começar a investir do zero? Veja passo a passo
O número de brasileiros que tem buscado alternativas para começar a investir é cada vez maior, como mostram os dados da Bolsa de Valores brasileira (B3). No acumulado em 2021, houve um aumento de 1,5 milhão de investidores pessoa física no mercado de capitais, o que representa uma alta de 56%.
Mas ao tomar a decisão de poupar parte dos ganhos e fazê-los render, muitos desconhecem qual é o passo a passo. Por exemplo, quando procurar um banco ou uma corretora, quais são os investimentos ideias para a reserva de emergência ou para um investimento de longo prazo.
Então, como começar a investir do zero? Especialistas ouvidos pelo UOL dão uma série de dicas para quem quer fugir dos erros mais comuns e ter mais segurança antes de dar os primeiros passos.
O que saber antes de começar a investir?
Para William Castro Alves, sócio e analista da Avenue Securities, o primeiro movimento do investidor deve ser formar uma reserva de emergência. Isto é, poupar um valor referente a um período de três a seis meses da sua renda, o que é considerado o suficiente para arcar com despesas em caso de eventualidades, como perda de emprego.
Esse recurso deve ser aplicado em ativos que permitam o saque a qualquer momento, como Tesouro Selic, CDB (Certificado de Depósito Bancário) com liquidez diária (possibilidade de resgate do dinheiro a qualquer momento, sem prejuízos) e fundos de renda fixa. “Uma vez tendo alcançado esse valor, pode-se pensar em, de fato, investir”, declara Alves.
Quem vai começar a formar um patrimônio também precisa entender que quanto maior a rentabilidade esperada de um investimento, maior a chance de ter eventuais perdas financeiras. Ou seja, quanto mais se quer ganhar, mais risco será preciso correr.
“Com isso em mente, o investidor será capaz de avaliar alternativas que lhe ofereçam altos retornos sem risco como sendo anomalias com pouca credibilidade, e provavelmente vai conseguir ficar de fora de muitas furadas”, afirma Patrícia Palomo, economista e planejadora financeira CFP pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar).
Outro aspecto importante é o nível de risco que o investidor tolera. Isso significa o quanto de oscilação, em termos financeiros, ele se sente confortável em troca da possibilidade de uma rentabilidade mais alta. O autoconhecimento financeiro é a chave para essa pergunta, segundo Patrícia.
Portanto, definido o perfil (conservador, moderado ou arrojado), será possível buscar o investimento mais adequado.
O prazo que se pretende deixar o recurso aplicado também deve ser analisado. Se o dinheiro tiver de ser usado em até um ano, por exemplo, é necessário buscar produtos que possibilitem essa liquidez.
“Se o espaço de tempo for maior, alternativas de investimento menos líquidas passam a fazer sentido”, diz a planejadora financeira.
Em resumo, o que o investidor precisa é de autoconhecimento do perfil de tolerância a riscos, dos objetivos financeiros e do prazo que pode renunciar ao recurso para mantê-lo investidoPatrícia Palomo, economista e planejadora financeira CFP pela Planejar
Quem é pouco familiarizado com o universo das aplicações deve estar preparado, por exemplo, para os altos e baixos da renda variável. Felipe Pontes, diretor educacional e de P&D do TC, cita o exemplo das cotações das ações e do bitcoin (BTC), que sobem e descem, portanto, são voláteis.
“Como o iniciante não está acostumado com o ‘tô rico, tô pobre’, ele poderá se desesperar e tomar decisões erradas de comprar quando o ativo está subindo e vender quando o ativo está caindo”, afirma Pontes.
“A primeira coisa para entender é qual o seu perfil como investidor e o seu estágio de ciclo de vida. Uma pessoa mais conservadora e que já está perto de se aposentar deveria ter menos renda variável do que uma pessoa que tem perfil mais agressivo e está em início de carreira e sem filhos, ou com contas a pagar”, declara o diretor do TC.
Diretor de investimentos do PagBank PagSeguro, André Souza dá algumas dicas para quem vai começar a guardar dinheiro.
“O ideal para encontrar o investimento mais adequado é responder perguntas. Por exemplo, por que estou investindo? Qual o objetivo para o dinheiro? Por quanto tempo vai ficar aplicado? Qual a tolerância a risco, perfil do investidor?”, diz Souza.
Outro fator importante, segundo o especialista, é não escolher investimento apenas pela rentabilidade passada. Os rendimentos de uma aplicação dependem de eventos futuros, como cenário econômico no Brasil e exterior. O rendimento passado não garante bom rendimento no futuro, de acordo com o diretor do PagBank PagSeguro.
Quais são os próximos passos para começar a investir?
Para começar a investir, é preciso ter acesso a um agente intermediador, que vai mediar a compra e venda de um ativo, segundo Mateus Vieira, consultor financeiro da Leve Pauta. Pode ser uma corretora de investimentos ou mesmo um banco que ofereça esse serviço.
Feito isso, é preciso ter os objetivos definidos, qual o prazo para alcançá-los e quanto será possível poupar mês a mês (aporte mensal).
Na hora de escolher a instituição financeira, é fundamental que seja uma na qual se tenha confiança. Pode ser um banco com quem já tenha relacionamento ou uma plataforma com a qual haja identificação.
O importante é saber que se trata de uma empresa regulada e fiscalizada pelos órgãos competentes: Banco Central (BC) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM), segundo Patrícia Palomo.
Alves, da Avenue Securities, diz que, no caso do investimento internacional, é necessário checar se a corretora ou casa de investimentos tem todas as certificações para realizar o câmbio e a guarda dos recursos de forma segura.
Como abrir uma conta em corretora?
Abrir conta em uma corretora é bem simples, com um processo parecido com o usado por bancos, de acordo com Vieira, da Leve. Basta acessar o site da corretora de interesse, inserir os documentos e dados necessários, e aguardar ser aprovado.
Ao abrir a conta será necessário responder um questionário chamado de “suitability” para definir qual é o perfil de investidor, segundo Pontes. Para o diretor do TC, o mais difícil nessa etapa é a escolha de quem vai ajudar a investir o dinheiro.
A sugestão de Pontes é conversar com amigos que já investem para perguntar quais corretoras usam e quais os prós e contras, além de dar uma olhada no ranking do Reclame Aqui.
“Eu levaria em consideração [ao escolher uma corretora], portanto, os seguintes fatores: É de graça? Tem uma boa oferta de produtos e serviços gratuitos? Tem bom atendimento? Funciona bem? Conversar com as pessoas e pesquisar na internet te ajudará a responder essas questões”, afirma o executivo.
Investimento não é só para rico
Muitas pessoas ainda se sentem inseguras em começar a investir, porque acreditam que esse é um hábito apenas para quem tem alto poder aquisitivo. Mateus Vieira, da Leve, declara que esse raciocínio está errado.
Investimentos são meios de multiplicação de patrimônio, não uma exclusividade de quem já tem muito. Com R$ 30 já é possível fazer uma aplicação no Tesouro Direto. Não é preciso ser rico para investir. A vantagem de começar com pouco é ir aprendendo desde cedo.Mateus Vieira, consultor financeiro da Leve Pauta
Como declara Souza, do PagBank PagSeguro, guardar dinheiro, seja qual for a renda, é para qualquer momento de vida e serve como forma de concretizar sonhos e alcançá-los de forma planejada e mais rápida, além de ter sempre uma reserva de emergência, evitando endividamento em momentos inesperados. “Ou seja, investir é realmente para todos.”
Ajuda profissional ou investir por conta própria?
A ajuda de um profissional é muito bem-vinda, afirma Vieira, da Leve. Quem preferir seguir por conta própria na tomada de decisão deve entender no que está se investindo.
“Para pessoas que não se interessam ou não possuem afinidade com o assunto, o auxílio de um profissional é necessário. Há opções de investimentos que você contrata um profissional para gerir seus recursos, os chamados fundos de investimentos, o que também pode ser uma alternativa interessante, dependendo do perfil da pessoa”, diz.
Pontes, do TC, no entanto, afirma que sempre é possível investir sozinho, desde que se estude os conceitos básicos sobre finanças —seja por meio de textos, vídeos e cursos— ajuda no desempenho.
Quem não se sentir seguro deve buscar conteúdos mais aprofundados. Mas se o montante a ser investido for elevado (“centenas de milhares de reais em diante”), pelo menos no começo é recomendável contar com algum tipo de consultoria dada por profissionais independentes que tenham as certificações adequadas, como CEA, CFP, CFA, CNPI ou CGA.
Quais são os erros mais comuns do investidor iniciante?
Um dos erros mais comuns do investidor iniciante, segundo Mateus Vieira, é não conhecer o ativo no qual está investindo.
“Muitas vezes a decisão é tomada com base no que se ouviu em rodas de conversas, de influenciadores digitais que não são especialistas no tema ou até mesmo motivada por querer ganhar muito dinheiro em um curto prazo”, declara.
Além disso, o consultor da Leve diz que outro erro muito comum, principalmente nas primeiras análises de resultados, é achar que rentabilidade histórica é garantia de rentabilidade futura.
A recomendação do especialista da Leve é que seja feita uma análise mais completa para entender se aquele é realmente um bom ativo, se está alinhado com seus objetivos e condizente com o seu perfil de investidor.
Veja um resumo com os erros mais comuns do investidor iniciante, segundo os especialistas ouvidos pelo UOL:
- Adiar o plano de começar a investir;
- Querer copiar ou seguir a alocação que são desenhadas para outras pessoas, com diferentes perfis;
- Não ter uma carteira diversificada, ou seja, apostar em apenas uma classe de ativo porque acredita na sua valorização;
- Achar que vai ficar rico do dia para noite, sem disciplina e visão de longo prazo;
- Falta de tolerância a risco;
- Na desvalorização de um investimento, abandoná-lo logo;
- Na valorização de investimento, aderir a ele sem antes pesquisar sobre