Congresso deixa anistia de lado e prioriza divisão de verbas do Orçamento do próximo ano

A proposta de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro praticamente perdeu espaço no Congresso Nacional. O tema, que chegou a dividir governo e oposição, saiu do centro do debate político e foi substituído pelas discussões orçamentárias e pelas articulações partidárias com foco nas eleições de 2026.

No plenário, o silêncio domina: parlamentares evitam se posicionar publicamente sobre o assunto, considerado politicamente desgastante e sem retorno eleitoral.

Nos bastidores, integrantes da articulação política do Palácio do Planalto descrevem um cenário de desmobilização total. Segundo avaliação de uma fonte do governo, o Congresso vive um “impasse confortável”, em que nenhum lado deseja se mover.

“Ninguém está querendo votar a LDO por agora. Para o governo é ruim, pois antecipa o calendário de emendas e, a cada dia que passa, melhora as estimativas de receitas. Para a oposição também não é bom porque, apesar de antecipar o calendário das emendas, acaba sendo uma vitória para o governo e reduz uma frente de pressão por mais recursos”, avaliou um interlocutor do Planalto.

A líder do PSOL na Câmara, deputada Talíria Petrone, afirmou que a anistia “já saiu do horizonte político” e destacou o papel da mobilização popular para enterrar o tema.

“Olha, não vejo nenhum clima para a anistia avançar. A mobilização nas ruas derrubou, enterrou de vez a PEC da blindagem, garantiu que o imposto de renda fosse aprovado, com isenção para quem ganha até R$ 5 mil, compensando nos mais ricos. O povo brasileiro incidiu fortemente na pauta do Congresso e derrotou a oposição”, afirmou.

O deputado Mário Heringer (PDT-MG) tem leitura semelhante e elogiou a condução do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

“O espaço para votação da anistia está cada dia mais distante e a discussão já se exauriu. Uma turma não quer, dentre eles eu, e outra turma quer, ampla ou restrita — impossível. Esse impasse gera um desconforto que tem que acabar e acabou. Acho que o presidente Hugo Motta tomou a decisão de não mais discutir esse assunto, uma vez que não leva a nenhuma vantagem para o Brasil”, disse.

O consenso é de que a anistia não traria ganhos políticos e apenas reacenderia a polarização, em um momento em que a Câmara busca recuperar estabilidade interna.

Orçamento de 2026 domina as atenções

Enquanto isso, governo e Centrão concentram esforços na discussão da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e na disputa por espaço no orçamento de 2026. A expectativa é de que, com o passar do tempo, as estimativas de receita melhorem, ampliando a margem para novas emendas e repasses a aliados.

Ainda assim, a oposição promete um último gesto político durante a reunião de líderes marcada para quinta-feira (24), quando será definida a pauta da próxima semana.

No Planalto, a avaliação é pragmática: a anistia foi abandonada e dificilmente voltará à pauta antes da definição do orçamento e das alianças eleitorais. Até lá, o tema segue soterrado sob o peso das emendas e das disputas políticas.