As eleições municipais são famosas por suas disputas acirradas e históricas que norteiam milhares de cidades do país a cada quatro anos.
Aqui na Paraíba, cada município tem sua particularidade. Existem aquelas cidades onde a população é totalmente dividida e que as eleições são decididas por uma margem mínima de votos, por outro lado vemos locais capitaneadas por famílias ou grupos políticos, que conseguem ficar mais de 20 anos no poder.
Após o fim da Ditadura Militar, houve a instauração do pluripartidarismo e o retorno das eleições livres na capital, o que proporcionou uma maior liberdade e mudanças profundas na política paraibana que se intensificaram a partir de 1985.
Nessa matéria nós iremos relembrar oito das disputas mais acirradas em Campina Grande, seus atores políticos e todo o enredo de grandes embates da história na Rainha da Borborema.
As eleições de 1968 se trataram de um embate de gerações. O famoso empresário e ex-Prefeito Severino Cabral que já estava com 71 anos e dois jovens advogados que começavam a despontar na política paraibana.
Filho do deputado estadual Major Veneziano e Sobrinho de Argemiro de Figueiredo, Vital do Rego se elegeu Deputado Estadual em 1958, com apenas 23 anos, se tornando Deputado Federal em 1962, ficando no cargo até ter seu mandato cassado pela Ditadura em 1969.
Filho do ex-Prefeito de Araruna Demóstenes Cunha Lima, Ronaldo Cunha Lima também se tornou parlamentar muito cedo, quando foi eleito Vereador de Campina Grande em 1960 e Deputado Estadual em 1962 até 1968.
Com a instauração da Ditadura Militar em 1964, houve a exclusão de várias legendas e a implementação do bipartidarismo entre MDB, que concentrava os políticos oposicionistas e ARENA onde estavam os aliados dos militares.
A eleição teve seis candidaturas: Ronaldo, Vital e Osmar de Aquino representando o MDB, enquanto, Severino, Plínio Lemos e Stenio Lopes eram os nomes da ARENA.
Ronaldo foi eleito pelo MDB, com 13.429 votos, com Severino Cabral ficando em segundo lugar, com 17.568 votos. Mas como isso era possível? Na época havia a chamada sublegenda e os votos dados aos candidatos menos votados dos dois partidos (Arena e MDB) eram somados aos votos dos candidatos com maiores votações.
Pela Arena 2, Plínio Lemos obteve somente 635 votos e José Stênio de Lucena Lopes conseguiu 241 votos. Pela sublegenda do MDB 3, Vital do Rêgo obteve 8.415 votos e Osmar de Araújo conseguiu 312 votos pelo MDB 2, possibilitando a vitória de Ronaldo.
Cunha Lima assumiu a prefeitura em 31 de janeiro de 1969, mas teve seus direitos políticos cassados em decorrência do AI-5, em 13 de março do mesmo ano, ficando mais de uma década longe da política.
Após a cassação de Ronaldo, Campina Grande teve três Prefeitos interventores, até uma nova eleição livre em 1972, com a vitória de Evaldo Cruz.
O pleito de 1976 englobou cinco candidaturas: Juracy Palhano, Ermirio Leite Filho e Enivaldo Ribeiro pela Arena, contra Orlando Almeida e Ivandro Cunha Lima que eram do MDB.
Diferente da eleição de 1968, onde apenas três dos seis candidatos englobaram um grande número de votos, o pleito de 76 teve quatro postulantes conseguindo votações expressivas.
Orlando Almeida havia sido eleito Deputado Estadual em 1962 e era o Vice-Prefeito na chapa de Ronaldo em 1968, assumindo o cargo por alguns meses antes da entrada de um interventor.
Juracy Palhano era outro nome bastante experiente. Ex-Vereador na cidade de Remígio, Juracy ficou na segunda colocação na disputa para a Prefeitura de Campina Grande em 1972, conseguindo se eleger Deputado Estadual em 1974.
Mas o pleito ficou mesmo entre, Enivaldo Ribeiro que havia sido eleito Deputado Estadual com a maior votação do estado em 1974, e que tinha como seu principal concorrente, o irmão de Ronaldo e ex-Senador Ivandro Cunha Lima.
Enivaldo foi eleito ao atingir 19.972 votos, que somados aos 9.895 de Juracy e os 748 de Ermirio, foram superiores ao montante de 15.563 de Ivandro e os 10.798 de Orlando Almeida.
A eleição de 1982 foi o reencontro entre dois nomes que buscavam retornar a política em grande estilo após serem perseguidos pela Ditadura.
O pleito englobou sete candidaturas: Ronaldo Cunha Lima, Manoel Barbosa e Hermano Nepomuceno pelo MDB; Vital do Rêgo, Moisés Lyra Braga e Geraldo Magela Barros representando o PDS e Edgard Malagodi (PT).
Após ter os seus direitos políticos cassado em 1969, Ronaldo decidiu recomeçar a sua carreira de advogado, indo para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro. Anistiado politicamente em 1982, o ex-Prefeito decidiu retornar a Campina Grande após apelos de amigos que acreditavam que a sua candidatura seria a primeira vitória do grupo em Campina desde 1968.
Vital do Rego que foi o terceiro colocado naquela mesma disputa de 68, teve o mandato de Deputado Federal cassado em 1969. Vital também foi impedido de trabalhar como professor de Sociologia e chefe do departamento de ciências sociais da UFPB.
Exercendo atividades jurídicas desde sua cassação, Vital recuperou os direitos políticos em 1979 e foi reintegrado ao quadro de professores da FURNE (atual UEPB), além de trabalhar na USP. Até 1982, era o reitor da FURNE quando foi escolhido o principal candidato do partido apoiado pelo então Prefeito, Enivaldo Ribeiro.
Ronaldo conseguiu se eleger com uma votação mais tranquila do que se imaginava antes das eleições ao atingir, 40.679 votos (56,33%), contra 28.625 (39,64%) de Vital.
Ronaldo passou o bastão para o filho Cássio que se tornou Prefeito em 1988 com apenas 25 anos, ao vencer uma eleição acirrada contra Enivaldo, que voltou em 1992 para um duelo ainda mais disputado contra um Vereador apoiado pelo clã Cunha Lima.
O pleito englobou seis candidaturas: Félix Araújo Filho (MDB), Enivaldo Ribeiro (PDT),Álvaro Neto (PFL), Antonio Pereira (PT), Damião Feliciano (PTB) e David Lobão (PFS).
Félix Araújo é filho do ícone campinense, famoso escritor e ex-Vereador da Rainha da Borborema, Félix de Souza Araújo.
Araújo presidia uma comissão que investigava as contas da administração municipal, quando foi baleado pelas costas por João Madeira, então funcionário da prefeitura da cidade e guarda costas pessoal do Prefeito Plínio Lemos. O Vereador resistiu por duas semanas no hospital, mas faleceu com apenas 30 anos em 27 de julho de 1953,
Seguindo os passos do pai, Félix Filho foi eleito o Vereador mais votado da cidade em sua primeira eleição em 1982, se reelegendo em 1988.
Enivaldo que havia retornado a Assembleia em 1986, não disputou a reeleição em 1990, concentrando suas atenções em vencer a Prefeitura sem a presença de um Cunha Lima após a derrota para Cássio em 88 e a vitória contra Ivandro no pleito de 1976.
Araújo venceu ao atingir 55.493 votos (46,03%), versus 45.397 (37,65%) de Enivaldo.
O pleito de 1996 marcava o reencontro entre Cássio e Enivaldo após a acirrada disputa de 88, só que dessa vez, Ribeiro formou um bloco fortíssimo para destronar os 14 anos da família Cunha Lima no poder.
O pleito englobou apenas quatro candidaturas: Cássio Cunha Lima (MDB), Enivaldo Ribeiro (PPB), Edgard Malagodi (PT) e Raimundo Braga Neto (PTB).
Cássio foi um dos políticos mais jovens da história paraibana ao atingir o sucesso antes de completar 30 anos. Eleito Deputado Federal em 1986, com apenas 23 anos, decidiu sair de Brasília para disputar a Prefeitura de Campina Grande, derrotando Enivaldo Ribeiro em uma eleição decidida nos mínimos detalhes.
Decidiu sair antes do final do mandato para assumir a SUDENE, cargo que ocupou até 1994, quando foi o Deputado Federal mais votado do estado, com quase 100 mil votos de vantagem para o segundo colocado.
Optou por deixar mais uma vez a Câmara Federal para tentar uma segunda administração na Rainha da Borborema nas eleições de 1996, apoiado pela máquina do MDB, que englobava o Governador José Maranhão, o Senador Ronaldo Cunha Lima e o Prefeito Félix Araújo.
Para derrotar essa dinastia Enivaldo foi buscar o apoio do filho daquele no qual ele acreditou em 1982. O ex-Prefeito escolheu Vital do Rêgo Filho, que havia sido Vereador de Campina por duas ocasiões e em seu primeiro mandato na Assembleia, como o vice da sua chapa.
Contando com apoios ilustres como o do Prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, Enivaldo chegou muito perto de finalmente derrotar o clã Cunha Lima, perdendo para Cássio, por menos de 5% dos votos, 72.185 (48,30%) dos votos para Cássio, contra 64.074 (42,88%) de Enivaldo.
Cássio se reelegeu em 2000 após uma vitória acachapante e uma quarta derrota seguida de Enivaldo Ribeiro. A vice de Cássio era Cozete Barbosa (PT) que assumiu o mandato após a saída do Prefeito para o Governo em 2002. Cozete e Cássio romperam pouco depois, ocasionado em uma das maiores viradas da história da política paraibana.
O pleito englobou cinco candidaturas: Veneziano Vital (MDB), Rômulo Gouveia (PSDB), Cozete Barbosa (PT), Lídia Moura (PSB) e José Araújo (PMN).
A Prefeita Cozete Barbosa saiu candidata sem o apoio do seu antigo colega de chapa. Com isso o grupo Cunha Lima que tinha ido para o PSDB em 2001, decidiu apoiar o Deputado Estadual Rômulo Gouveia, tendo como vice a então estreante na política Daniella Ribeiro, em uma jogada que não seria pensada antes da eleição pois seu pai Enivaldo Ribeiro, havia perdido as últimas quatro eleições contra o Clã Cunha Lima.
Veneziano que aparecia como azarão no começo das eleições, era na época um Vereador no segundo mandato, que tinha tido uma boa votação na disputa pela Câmara Federal em 2002.
Vital decidiu sair do PDT onde tinha feito toda sua carreira política para se filiar ao MDB, formando uma chapa puro sangue ao lado de José Luiz Júnior.
O primeiro turno foi mais disputado do que se imaginava no começo da eleição, pois com a máquina do Governo e o histórico de vitória dos Cunha Lima, a tendência era uma vitória tranquila de Rômulo, mas o que vimos foi uma vantagem mínima para o Deputado Estadual, 89.730 votos (45,73%), contra 82.917 (42,26%) de Veneziano.
No segundo turno Cozete que chegou a ter quase 19 mil votos, decidiu apoiar a oposição, ocasionado em uma virada memorável, com Veneziano vencendo com uma vantagem de apenas 790 votos, 101.900 (50,19%) x 101.109 (49,81%), quebrando a hegemonia de 22 anos da família Cunha Lima em Campina.
A eleição de 2008 teve os dois protagonistas do pleito anterior, mas não deixou de ser emocionante, em mais uma disputa acirradíssima, que movimentou a política de Campina Grande.
O pleito englobou apenas quatro candidaturas: Veneziano Vital (MDB), Rômulo Gouveia (PSDB), Érico Feitosa (PHS) e Sizenando Leal (PSOL).
O saudoso Rômulo Gouveia decidiu alçar voos mais altos nas eleições de 2006, deixando a Assembleia e se tornando o terceiro Deputado Federal mais votado da Paraíba no pleito.
Rômulo decidiu tentar a revanche em 2008, mudando a sua companheira de chapa nessas eleições. No lugar de Daniella Ribeiro que disputou e venceu a uma das vagas a Câmara Municipal, a escolhida foi Lígia Feliciano, esposa do Deputado Federal Damião Feliciano, Lígia até então só havia disputado uma única eleição, quando foi quinta colocada na disputa ao Senado em 2002.
O primeiro turno teve a mesma imprevisibilidade de 2004, com Veneziano vencendo por apenas pouco mais de 1% de diferença. 48,88% x 47,78%.
O segundo turno foi apertado, mas pela primeira vez em três disputas, Veneziano conseguiu ficar na frente com uma certa tranquilidade, se reelegendo Prefeito de Campina Grande ao atingir 116.222 votos (51,52%) contra 109.343 (48,48%) de Gouveia, que depois foi alçado a Vice-Governador na chapa de Ricardo Coutinho nas eleições de 2010.
A disputa de 2012 foi protagonizada por um grupo que tentava perpetuar a dinastias do MDB, contra dois candidatos que simbolizavam os embates dos Cunha Limas contra os Ribeiros.
O pleito englobou sete candidaturas: Tatiana Medeiros (MDB), Romero Rodrigues (PSDB), Daniella Ribeiro (PP), Guilherme Almeida (PSC), Artur Bolinha (PTB), Alexandre Almeida (PT) e Sizenando Leal (PSOL).
A Secretária da Saúde e suplente de Deputada Estadual Tatiana Medeiros foi a escolhida de Veneziano e do MDB. Tatiana venceu nas prévias o Vice-Prefeito José Luiz Júnior, o ex-deputado Walter Brito Neto, além dos secretários de Esporte e Lazer, Metuselá Agra, e de Obras, Alex Azevedo.
Primo de Cássio Cunha Lima, Romero Rodrigues iniciou sua carreira política quando candidatou-se e elegeu-se vereador de Campina Grande em 1992, se reelegendo por mais três mandatos. Em 2006 foi eleito Deputado Estadual, obtendo 38.014 votos, sendo o mais votado em Campina Grande. Romero foi Secretário de Interiorização do Estado (2007-2008) e, depois, secretário-chefe da Casa Civil do Governo da Paraíba (2008-2009), na gestão de Cássio Cunha Lima.
No pleito de 2010, confirmou a sua ascensão no cenário político, ao se eleger Deputado Federal ao atingir quase 100 mil votos. Todos esses predicados trouxeram a Romero a chance de retomar o protagonismo do grupo Cunha Lima na Rainha da Borborema.
Daniella Ribeiro tinha tido sua primeira experiência política quando foi candidata a Vice na chapa encabeçada por Rômulo Gouveia em 2004. Após se tornar Vereadora de Campina em 2008, Daniella expandiu sua atuação ao ser eleita Deputada Estadual em 2010 e tentava trazer de volta o sobrenome dos Ribeiros, após a vitória do seu pai em 1976.
O primeiro turno trouxe uma vantagem importante de Romero visando o segundo turno, Daniella teve 16,80%, Tatiana ficou com 30% e Romero atingiu os 44,94%.
A vantagem de Romero se consolidou, com o Deputado Federal se elegendo ao atingir 130.106 votos (59,14%), versus 89.887 (40,86%) de Tatiana.