Em cena no STF, Zanin é terrivelmente conservador, por Milton Alves
Por Milton Alves*
Em menos de um mês, os votos do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), têm causado surpresa e indignação dos setores progressistas e de esquerda, que apoiam o governo do presidente Lula.
Entidades jurídicas e movimentos sociais manifestam temor diante da conduta conservadora e até reacionária do mais novo ministro da Corte Suprema, indicado pelo presidente Lula. Sem uma trajetória anterior de militância democrática no campo do Direito, é possível que o novo ministro repita as atuações de Joaquim Barbosa, Dias Toffoli, Edson Fachin, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso — todos indicados pelos governos do PT –, que no exercício do cargo adotaram posturas conservadoras e apoiaram a operação Lava Jato, o golpe do impeachment da presidente Dilma e a prisão de Lula. No caso de Dias Toffoli, que foi advogado do PT, o ministro introduziu a presença de militares no STF, além de revisar a posição sobre o golpe militar de 1964.
Nas redes sociais, a militância petista também reclama da atuação do ministro Zanin. A primeira-companheira Janja da Silva interagiu no X (ex-Twitter) sobre a atuação do ministro. Já no lado oposto do espectro político, os votos de Zanin têm agradado a extrema-direita, até a senadora bolsonarista Damares Alves elogiou o ministro, e a velha mídia neoliberal, que antes foi crítica da indicação do advogado de Lula, manifestou satisfação com a sua performance direitista.
A seguir um breve perfil do ministro Cristiano Zanin e seus votos no STF. É verdade que não conhecemos a sua visão de mundo e conduta ideológica, mas como “gato escaldado tem medo de água fria” o mais adequado para fazer no momento é redobrar a vigilância sobre o ministro, pressionando para que vote conforme o anseio da maioria do povo brasileiro.
Ficha técnica
Cristiano Zanin Martins, 47 anos, natural de Piracicaba (SP), branco, rico, casado com Valeska Teixeira Zanin Martins, advogado especialista em direito criminal e com atuação no âmbito do direito econômico e empresarial. Zanin é formado pela PUC-SP.
Cristiano Zanin atua na defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde 2013 e ganhou projeção nacional e internacional no curso da famigerada e golpista operação Lava Jato, comandada pelo então juiz Sergio Moro, que atualmente exerce o mandato de senador.
O então advogado do líder petista enfrentou um conjunto articulado de arbitrariedades para exercer, com plenitude, a defesa de Lula, uma prática conhecida como Lawfare. Teve inclusive o seu escritório grampeado ilegalmente.
Zanin, em 2021, entrou com um pedido de habeas corpus no STF que resultou na anulação das condenações de Lula, após o Supremo ter reconhecido a parcialidade do juiz Sergio Moro. A anulação das sentenças restabeleceu os direitos políticos de Lula, que ficou preso injustamente por 580 dias –, na sede da Polícia Federal, em Curitiba.
A banca de Zanin tem contratos para atuar na defesa de poderosos grupos empresariais: Lojas Americanas, Holding J&F dos irmãos Batista e comandou o processo de recuperação judicial da Varig, representando um fundo norte-americano acionista da companhia de aviação.
Em 21 de junho, indicado pelo presidente Lula, foi aprovado no Senado da República para ocupar o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), com 58 votos favoráveis e 18 contrários. Zanin ocupou a vaga que foi de Ricardo Lewandowski — um juiz progressista e garantista. Pelo atual critério de idade (75 anos), Zanin poderá atuar no Supremo até 2050.
FONTE: https://www.esmaelmorais.com.br/