A nova ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), conhecida como Daniela do Waguinho, se viu envolvida numa polêmica já no início do seu mandato: a ligação dela com um miliciano condenado por homicídio e associação criminosa. O vínculo político de Carneiro, reeleita deputada federal pelo Rio de Janeiro, com o ex-PM Juracy Alves Prudêncio, conhecido como Jura e acusado de comandar uma milícia na Baixada Fluminense, foi revelado nesta terça-feira (03/01) pelo jornal Folha de S.Paulo.
A reportagem mostrou que a ministra também teve o apoio de Giane Prudêncio, ex-vereadora e esposa do ex-policial durante as campanhas de 2018 e 2022. Em 2018, Carneiro chegou a chamar o miliciano de “liderança”, ao publicar fotos ao lado de Jura e sua esposa nas redes sociais. Na época, ele já estava condenado e preso. O ex-PM, porém, tinha autorização para deixar a prisão durante a semana para trabalhar. Ele cumpria expediente como assessor na prefeitura de Belford Roxo, cujo prefeito era o marido de Carneiro, Wagner dos Santos Carneiro, conhecido como Waguinho. A postagem foi apagada das redes da ministra depois da revelação da reportagem.
Quem é Jura, o miliciano ligado ao grupo político da ministra
Em 2008, a CPI das Milicias da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro apontou o ex-cabo da Polícia Militar como o líder da milícia Bonde do Jura, que atuava nas cidades Belford Roxo, Queimados, Nova Iguaçu e São João de Meriti. O grupo invadia comunidades e cobrava de moradores e comerciantes por proteção. Jura também seria chefe de um grupo de extermínio, que fazia ameaças inclusive no período eleitoral.
Jura foi preso em 2009 e condenado a 26 anos de prisão por associação criminosa e homicídio. Apesar da condenação e detenção, o miliciano arrumou, em 2017, um emprego na prefeitura de Belfort Roxo, onde o marido da ministra já era prefeito. No mesmo ano, Jura passou a cumprir pena no regime semiaberto para trabalhar como assessor na Secretaria de Ordem Urbana de Belfort Roxo, recebendo um salário de R$ 3 mil.
No ano seguinte, durante as eleições, embora tivesse que oficialmente cumprir expediente na prefeitura, Jura atuou como cabo eleitoral de Carneiro, que na época concorria a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo MDB, e do ex-deputado federal Márcio Canella, também do MDB e então vice-prefeito de Belford Roxo.
Em 2020, o jornal Extra e TV Globo revelaram a atuação de Jura nas eleições e sua contratação pela prefeitura de Belford Roxo. A prefeitura negou que o miliciano tivesse tomado posse na secretaria, que, por sua vez, disse que Jura fazia parte de um programa de ressocialização e não recebia salário. A mulher do miliciano chegou a postar um vídeo na época, no qual Jura agradece a Waguinho pela “oportunidade de ressocialização”.
Apoio da esposa de Jura em 2022
Após a repercussão do caso, a Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro suspendeu a permissão para que o miliciano deixasse a prisão para trabalhar. O Ministério Público mostrou possíveis irregularidades na comprovação da presença de Jura no trabalho. Em seu depoimento, o ex-PM negou ter sido empossado e ter recebido salário.
Atualmente, Jura está preso na Cadeia Pública Constantino Cokotós. O Ministério Público considera que o miliciano continua atuando no crime organizado, apesar de sua prisão.
Em 2018, além de Jura, a ministra recebeu o apoio de sua esposa, a ex-vereadora Giane Prudêncio. Ao concorrer à reeleição para a Câmara dos Deputados em 2022, Carneiro voltou a contar com Giane como cabo eleitoral, que divulgou sua participação em caminhadas nas redes sociais, acompanhadas da frase “família Jura sempre com vocês”. A esposa do miliciano é atualmente assessora do deputado estadual Márcio Canella (União Brasil).
O que diz a ministra do Turismo
Após uma campanha com relatos de intimidação e atuação irregular de policiais, Carneiro foi a deputada mais votada do Rio de Janeiro, recebendo 213,7 mil votos. Sua indicação para o Ministério do Turismo também se deve a sua participação e a atuação de seu marido, Waguinho, o prefeito de Belford Roxo, no segundo turno na campanha de Lula.
Após a reportagem da Folha de S.Paulo, a ministra afirmou ao jornal em nota que recebeu apoio em vários municípios e destacou que isso não significar compactuar com quem comete ato ilícito. “Ela ressalta que o apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito. Daniela Carneiro salienta que compete à Justiça julgar quem comete possíveis crimes”, afirmou por meio de sua assessoria. A ministra disse também que não tem nenhuma relação com a contratação de Jura pela prefeitura de Belford Roxo.