Na política paraibana, mudar de partido não é exceção — é quase regra. Por motivos que vão desde cálculos eleitorais a disputas internas e realinhamentos ideológicos, alguns nomes se tornaram verdadeiros “nômades partidários”. Eles atravessaram siglas ao longo das décadas e construíram carreiras políticas transitando entre campos ideológicos distintos.
Abaixo, a reportagem destaca os políticos paraibanos que mais trocaram de legenda desde a redemocratização, com destaque para seus contextos e impactos no tabuleiro político estadual:
Wilson Braga: o recordista com 11 partidos
Ex-governador e um dos políticos mais emblemáticos da história da Paraíba, Wilson Braga (1931–2020) lidera o ranking. Iniciou na UDN, passou por ARENA, PDS, PSB, PDT, PFL, MDB e outras siglas. Ao todo, foram 11 filiações diferentes. Braga transitou entre os principais polos ideológicos do país e deixou uma marca de pragmatismo político. Sua última filiação foi ao PDT.
Felipe Leitão: 5 partidos em 4 anos
Deputado estadual, Felipe Leitão protagonizou uma verdadeira maratona partidária entre 2018 e 2022. Nesse período, migrou por Democratas, Avante, PSD e Republicanos . As trocas constantes alimentaram críticas, mas também mostraram sua habilidade de manter-se competitivo. Leitão é exemplo de como as alianças partidárias muitas vezes são instrumentos de sobrevivência política.
Marcondes Gadelha: o camaleão do Sertão
Ex-senador e ex-candidato a vice-presidente do Brasil, Marcondes Gadelha também acumulou um histórico de diversas filiações: MDB, PDS, PFL, PMB, entre outras. Sua trajetória é marcada por reinvenções e tentativas de voltar à cena política, alternando entre a política nacional e a base sertaneja de Sousa.
Inácio Falcão: figura carimbada da esquerda
Atualmente no PSB, Inácio Falcão percorreu um caminho que inclui siglas como PTB, PST, PFL, PDT, PSDB, PTdoB e PCdoB. Com base eleitoral em Campina Grande, Falcão é um exemplo de como as mudanças partidárias não impedem reeleições sucessivas quando há vínculo com a comunidade e estratégias bem alinhadas.
Damião Feliciano: múltiplas filiações e alianças
Deputado federal e médico, Damião Feliciano já foi filiado ao PTB, MDB, PL, PP, PDT e União Brasil. Casado com a ex-vice-governadora Lígia Feliciano, formou um grupo político influente no estado, com trânsito entre diversos campos ideológicos. Seu histórico mostra como alianças podem ser redesenhadas conforme o contexto eleitoral.
Tião Gomes: seis partidos em mais de três décadas
Deputado estadual desde os anos 1990, Tião Gomes já passou por PDT, MDB, PSDB, PSL, Avante e PSB. Sua permanência ininterrupta na Assembleia Legislativa mostra que, para alguns, a fidelidade ao eleitorado é mais importante que a fidelidade ao partido.
Jeová Campos: transição ideológica
Deputado estadual por três mandatos, Jeová Campos começou no PT, migrou para o PSB em 2014 e voltou ao PT em 2022. O retorno foi acompanhado de declarações de reencontro ideológico, mas também de cálculos para fortalecimento regional no Alto Sertão.
Walter Brito Neto: o primeiro cassado por infidelidade
Em 2008, Walter Brito Neto entrou para a história ao se tornar o primeiro deputado federal cassado por infidelidade partidária no Brasil. Eleito pelo PFL, trocou de partido sem justa causa e perdeu o mandato — um marco jurídico e político que colocou a fidelidade partidária no centro do debate nacional.
Guilherme Almeida: entre cassação e retorno
Ex-deputado estadual, Guilherme Almeida também viveu as consequências da infidelidade partidária. Cassado após deixar o PPS para se filiar ao PSB, ele retornou à Assembleia Legislativa mais tarde pelo PSC. Seu caso evidenciou os riscos de trocas não calculadas em tempos de maior vigilância jurídica.
Luciano Cartaxo: entre centro e esquerda
Ex-prefeito de João Pessoa por dois mandatos, Luciano Cartaxo iniciou sua trajetória no PT, depois se transferiu para o PSD e mais tarde para o PV. Em 2021, retornou ao PT, retomando sua ligação com o campo progressista. As mudanças de legenda acompanharam seus movimentos eleitorais — tanto nas disputas majoritárias quanto na construção de alianças. Cartaxo se mantém como uma figura central da oposição na capital.
As trajetórias desses políticos mostram que, na Paraíba, a fidelidade partidária é muitas vezes instrumental. Mais do que apego ideológico, o que prevalece é a busca por viabilidade eleitoral e espaços de poder. Em tempos de federações partidárias e novas regras eleitorais, a tendência é que esse cenário continue se reinventando — com os mesmos rostos, mas sob novas bandeiras.