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Foragido, Ramagem diz estar “seguro” nos EUA e afirma ter anuência do governo Trump

Deputado concedeu entrevista a Allan dos Santos, também foragido, e disse ter sido “abraçado” pelos americanos; PF rastreia fuga feita por rotas clandestinas; Câmara afirma que não autorizou viagem

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), condenado no processo da trama golpista e alvo de mandado de prisão decretado pelo ministro Alexandre de Moraes, afirmou, pela primeira vez, que está “seguro” nos Estados Unidos e que permanece no país com a “anuência” do governo de Donald Trump. A declaração foi dada neste domingo (23/11), em entrevista ao programa Conversa Timeline, apresentado pelo blogueiro Allan dos Santos, que também está foragido da Justiça brasileira desde 2021.

Durante a conversa, Ramagem afirmou ter sido “abraçado” pela administração republicana. Disse que a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, decretada ontem, representa “a consumação de toda a perseguição política” e a “conclusão de toda essa canalhice”, expressão usada por ele para se referir às decisões judiciais do Supremo Tribunal Federal.

Ramagem fugiu do Brasil em setembro. Uma reportagem do site PlatôBR revelou que ele vive atualmente em um condomínio de luxo em Miami, na Flórida, ao lado da esposa. A Polícia Federal rastreou o trajeto usado pelo deputado para deixar o país: ele teria saído por Boa Vista (RR), provavelmente atravessando para a Venezuela ou para a Guiana e, de lá, viajado para os Estados Unidos, tudo sem registro oficial de saída.

A fuga  levou Moraes a decretar a prisão do congressista. A decisão foi tomada após pedido da Polícia Federal, que apontou que Ramagem descumpriu medidas impostas no processo da tentativa de golpe e se evadiu para o exterior mesmo após ser condenado em segunda instância.

A Câmara dos Deputados informou que não autorizou qualquer missão oficial do parlamentar fora do país. De acordo com a Casa, Ramagem apresentou atestados médicos cobrindo o período de 9 de setembro a 8 de outubro e novamente de 13 de outubro a 12 de dezembro, o que justificaria, formalmente, sua ausência das atividades legislativas. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ainda não comentou o caso.

A Polícia Federal segue monitorando movimentos do deputado nos Estados Unidos enquanto estuda os meios legais para solicitar cooperação internacional.

‘Modus operandi’ de fuga citado por Moraes

Na ordem de prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que o ex-mandatário não poderia repetir o comportamento de aliados que, “em passado recente”, deixaram o país para escapar da responsabilização criminal. O magistrado citou nominalmente Eduardo Bolsonaro, hoje réu no Supremo, além de Alexandre Ramagem e Carla Zambelli, ambos já condenados. Para Moraes, a saída clandestina desses integrantes do mesmo grupo político demonstra um “modus operandi” consolidado: fugir do Brasil ao perceber a iminência de medidas penais.

O professor de Direito Constitucional Francisco Braga explica que o ministro buscou mostrar que a prisão preventiva de Bolsonaro se sustenta “não em fatos hipotéticos, mas em condutas concretas verificadas no próprio entorno político do ex-presidente”. Segundo Braga, a repetição dessa estratégia entre aliados “evidencia risco real de fuga e reforça a necessidade da prisão como forma de assegurar a aplicação da lei penal”.

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