Na última quinta-feira (29), a prisão de Antonio Neto Ais e Fabrícia Farias, casal responsável pelo esquema de pirâmide financeira da Braiscompany, ganhou destaque nos episódios de golpes das empresas de criptomoedas.
O grupo foi responsável por desviar mais de R$ 1 bilhão de mais de 20 mil clientes. A justiça condenou os dois a uma pena de 150 anos, por crimes contra o sistema financeiro.
Porém, um caso que poucos se lembram, é o da empresa Fiji Solutions, dos sócios Bueno Aires, Breno Vasconcelos e Emielene Maria lima, que igualmente deram golpes em diversos clientes.
Com atuação em Campina Grande, assim como a Braiscompany que foi alvo da Operação Halving meses antes, a Fiji prometia aos investidores grandes retornos associados a operações de bitcoins.
Ao começar a atrasar saques aos clientes, a Fiji chegou a ter investigações do Ministério Público da Paraíba contra o negócio. Contudo, o sócio principal evitou colaborar com as autoridades e passou a responder a acusações de crimes até ser preso pela Justiça.
Operação Ilha Fantasia é deflagrada contra a Fiji
Em junho do ano passado, a Polícia Federal deflagrou uma operação contra os gestores da Fiji, com o objetivo de combater crimes contra o sistema financeiro nacional e de organização criminosa. Também foram cumpridos 8 mandados de busca e apreensão nos municípios de Campina Grande e Gurjão, no âmbito da Operação Ilha da Fantasia.
Os investigados captaram recursos de clientes, prometendo pagamento de remuneração expressiva, que seria obtida mediante operações de compra e venda de criptoativos.
Nos últimos 3 anos foram movimentados pelos principais investigados, valores equivalentes a aproximadamente 600 milhões de reais. A Fiji tem sede no bairro do Catolé, em Campina Grande.
O nome da operação remete a um dos nomes comerciais utilizados pelo grupo criminoso, e ainda ao modus operandi empregado, que envolvia a promessa de rendimentos irreais aos investidores.
Polícia Civil do Rio de Janeiro e da Paraíba prendem líder da Fiji por abuso infantil
Um dos alvos de mandado de prisão da Operação Ilha da Fantasia foi Bueno Aires José Soares, que foi preso no dia 14 de junho de 2023, na cidade do Rio de Janeiro, em atuação de apoio da Polícia Civil do Rio de Janeiro à PC paraibana. As autoridades cumpriram ordem de prisão temporária sob a suspeita de crime de abuso sexual infantil.
Nos computadores e celulares do empresário foram encontradas imagens de crianças e adolescentes em cenas de sexo explícito. Chamou atenção dos policiais a produção dos conteúdos, o que indica que eles teriam passado pelas mãos de alguém que trabalha profissionalmente com edição de imagens. As fotos não teriam sido apenas baixadas de sites da internet.
Ao ser reconduzido ao estado, uma das linhas de investigação é tentar descobrir com o seu depoimento se ele é o responsável pela produção, ou se recebeu de alguém, também envolvido nesse tipo de crime. Após cerca de 15 dias da prisão, ele foi encaminhado à Penitenciária Regional Padrão de Campina Grande.
Empresa desmentiu declarações de não pagamento de Bueno
A empresa Blockseers, que realiza o rastreamento de bitcoin, ajudou clientes lesados pela empresa. Ao buscar contato com a corretora Kucoin, por exemplo, a empresa descobriu que a Fiji Solutions nem tinha conta na plataforma, enquanto afirmava aos clientes que não estava pagando devido a um suposto bloqueio de valores.
“Em março de 2023, a Blockseers descobriu que o e-mail banido não possuía conta ativa na Kucoin, possivelmente foi alterado antes, desmentindo assim, o motivo do atraso nos pagamentos”, disse a Blockseers para o portal Livecoins.
A empresa não pagava investidores desde fevereiro de 2023. Em abril, o Ministério Público da Paraíba (MPPB) entrou com uma ação civil pública e pediu o bloqueio de quase R$ 400 milhões do negócio, o que foi acatado pela Justiça.
“Com efeito, tem-se que o modelo de negócios desenvolvido pela Fiji é extremamente turvo, desde o objetivo do empreendimento em si (a gestão de criptoativos), bem como as suas práticas ou mesmo seu histórico de operações”, escreveu o promotor Sócrates da Costa Agra na ação.
Sócios da Fiji, Breno e Emilene, ganham liberdade após prisão
Ainda no mês de junho, pouco tempo após a prisão na Operação Ilha Fantasia, o desembargador André Luís Maia, da Justiça Federal, concedeu habeas corpus a Breno Vasconcelos, um dos sócios da Fiji.
Durante a mesma audiência de custódia, Emilene Maria Lima, esposa de Breno e também sócia da Fiji, teve sua prisão revogada e foi liberada.
Breno passou a responder em liberdade cumprindo medidas cautelares e Emilene cumpre prisão domiciliar.
Bueno também deixa a cadeia em Campina Grande
A Vara da Infância e Juventude de Campina Grande concedeu liberdade, em 11 de agosto de 2023, ao empresário Bueno Aires. Ele passou a cumprir medidas cautelares.
Bueno teve prisão de 30 dias prorrogada em julho, o que valeria até a segunda-feira, 14 de agosto de 2023. O juiz, no entanto, entendeu não haver necessidade de mantê-lo preso.
O Ministério Público da Paraíba (MPPB) e a Delegacia Crimes Cibernéticos (DECC) solicitaram a conversão da prisão em preventiva, porém, não foram atendidos pelo magistrado.
Bueno usa tornozeleira eletrônica e cumpri restrições de praxe designadas pela Justiça. As investigações sobre o caso Fiji e sobre a pornografia infantil seguem em andamento.
2024: MPF denuncia donos da Fiji por fraudes contra o sistema financeiro
No mês de fevereiro, o juiz da 4ª Vara da Justiça Federal em Campina Grande aceitou a acusação feita pelo Ministério Público Federal (MPF) contra Bueno, Breno e Emilene, que continuam sendo acusados de fraudes contra o sistema financeiro.
Com a aceitação da acusação, os três se tornam oficialmente réus no processo. O advogado Iarley Maia, que defende Bueno Aires, afirmou que ainda não teve acesso à acusação.
“Todavia, pelo que conheço da matéria, vamos esclarecer e contrapor toda dinâmica dos fatos descritos pelo MPF, que não corresponde à realidade vivenciada dentro de uma empresa com três sócios e responsáveis”, assinalou Iarley.
Promotor diz que processo está na fase de instrução e julgamento do caso Fiji; ação criminal está em andamento na justiça federal
Na sexta-feira (02/03), o Promotor Sócrates Agra, do Ministério Público da Paraíba (MPPB), informou que, atualmente, o MPPB aguarda a designação da audiência de instrução e julgamento na esfera cível.
O promotor também destacou que o MPPB está empenhado em rastrear os valores da Fiji Solutions em empresas conhecidas como ‘exchanges’, que funcionam como plataformas de câmbio digital, facilitando a negociação de criptomoedas por outros ativos, como moedas tradicionais.
Além disso, Sócrates informou que há uma ação criminal em andamento na justiça federal. Esta ação pode finalmente esclarecer os fatos que há meses estão sem respostas.
Nos próximos meses, a expectativa é que mais informações e desdobramentos judiciais apareçam sobre o caso.