A mãe e profissional que equilibra vários pratos
Sou jornalista há 18 anos, tenho 3 filhos, João Vitor de 20 anos, Gabriel que se foi logo ao nascer e Maya com 7 anos, divorciada e há cerca de 5 anos comecei a desenvolver meu trabalho como terapeuta integrativa e atualmente estou fazendo formação em Psicologia Analítica Jungiana. Uma mulher de 46 anos.
Essa poderia ser “eu”, caberia na bio de uma rede social, ou poderia ser isso que diria ao ser apresentada a qualquer pessoa no âmbito profissional. Mas depois de um processo muito profundo de análise, alguns tropeços, autoconhecimento e principalmente alguns possíveis diagnósticos de neuro divergência, me trouxeram ás constatações que me levaram a escrever esse artigo de uma série especial da semana da mulher.
Comecei o dia atarefado quando minha editora me mandou a mensagem com a minha pauta do fim de semana. Não pude comparecer (mais uma vez) à reunião de pauta onde a equipe define quais pautas especiais serão produzidas para o fim de semana. Estava com meu filho fazendo alguns exames.
Moro com minha filha mais nova e me equilibro entre os cuidados com Maya, minha casa e meu filho que mora com o pai. São 3 jornadas, duas de trabalho entre jornalismo online e atendimentos e produção de conteúdos terapêuticos e o terceiro tempo com as rotinas com minha filha. Moro em João Pessoa a 24 anos, minha mãe e minhas irmãs moram no interior. Portanto minha rede de apoio baseia-se basicamente entre as babás que eventualmente consigo contratar para situações emergenciais, e quinzenalmente quando Maya passa o fim de semana com o pai e o irmão.
Essa seria a minha vida se eu pudesse descreve-la brevemente, mas no fundo eu resumiria uma sensação que tenho absoluta certeza de que se você que lê esse artigo (quase desabafo) perguntar a qualquer mulher que trabalha e tem filhos concordaria. Eu sou uma mulher exausta. Não só física, mas emocionalmente também e principalmente.
Nesse mês de março, na minha matéria especial da semana anterior, eu escrevi sobre as 1491 mulheres assassinadas em 2023, e esses dados não oficiais são apenas dos casos que foram noticiados.
Passei o dia inteiro irritada com as congratulações, recebi uma flor, e no elevador enquanto chegava à redação, eu e mais 2 mulheres me me parabenizara, eu que já estava atrasada, tive problemas “de mãe” minha filha estava chateada com um brinquedo que levaria à escola, meu pneu baixou assim que cheguei na portaria do colégio. Sim esse é um dia comum.
Não se trata de reclamar apenas, ou de querer uma “aldeia” de apoio, mas a mulher do meu lado no elevador disse, parabéns para nós: E eu secamente respondi, parabéns pelo que? Ela era uma pessoa que aparentava 50 e poucos anos, e me respondeu, somos guerreiras, o nosso dia pode ser todos os dias. E mais uma vez eu falei e não me arrependo: Eu disse olha: Eu odeio que digam que sou guerreira, sabe porquê? Porque isso implica dizer que tive que lutar sozinha por no mínimo mais 3 ou quatro pessoas e na maioria homens que deveriam estar minimamente fazendo seu papel. Então não, eu não quero ser guerreira, eu sou estou sobrecarregada.
Dados estatísticos revelam que em 90% dos casos no Brasil, todos os cuidados médicos são feitos exclusivamente por mulheres.
Ser mulher, mãe solo, e profissional de forma equilibrada é uma balela. Papo de quem nunca o fez, o clichê de uma mulher polvo com oito braços, multitarefa, com casa arrumada, unha feita e trabalho absolutamente bem feito, simplesmente é humanamente IMPOSSÍVEL;
Algo sempre vai nos escapar, recentemente quando estava lendo um post qualquer na rede social, vi um vídeo da atriz Ingrid Guimarães que trago aqui a reflexão. Sempre fomos ensinadas a equilibrar muitos pratos girando no ar.
Assista o vídeo da teoria dos pratos e a maternidade aqui
@izabellacamargoreal Você tem clareza de qual prato pode cair? Amei @ingridguimaraes Isso é contrato de tempo! Você tem redefinido os seus? #izabellacamargo #saúdemental #saúde #bemestar #cuidar #cuidedevocê #contratodetempo #tempo
Mas o que podemos fazer é ter a certeza de que sim deixaremos vários pratos caírem. O seu filho pode dormir comendo apenas um lanche, essa matéria que deveria ser publicada na sexta, sairá apenas no sábado. Uma sociedade igualitária onde mulheres podem ter o mínimo de respeito já nem me passa pela cabeça agora. Porque a cada oito minutos uma mulher é assassinada nesse país. E essas mulheres muitas vezes deixam seus filhos órfãos, de janeiro a novembro do ano passado, 814 mulheres foram brutalmente assassinadas e deixaram filhos menores.
Eu quero direitos sim, quero flores também, mas não tem como escrever algo além de disso. Eduquem seus filhos para entenderem que mulheres são pessoas e não objetos. Pensem que nos matam como se isso não tivesse qualquer consequência, simplesmente por que ser homens já valida qualquer tipo de atrocidade.
Estou muito irritada, cansada, mas sobretudo forte, mesmo que pareça paradoxal. Minha fortaleza não está no fato de ter conseguido ou não equilibrar alguns pratos, sou privilegiada, por ser uma mulher branca, classe média, tenho formação superior. Mas mesmo sem lugar de fala e em nome de todas as outras mulheres que morrem, continuo a dizer homens deixem de ser babacas! E aos que querem ser aliados, saiam do alto dos pedestais de descontruídos e escutem as mulheres que vocês dizem amar.
Mulheres tentem enxergar outras mulheres com mais compaixão, sejam menos egoístas. Se pelo menos alguma pessoa que ler esse texto e puder pensar nem que sejam 7 minutos sobre isso, eu já terei cumprido o meu propósito. Atentem que eu disse 7 minutos, e no minuto seguinte ao que proponho minimamente uma reflexão saiba que mais uma mulher será assassinada. Que pelo menos a nossa própria vida tenha valido à pena para tentar que não nos matem, seja fisicamente seja emocionalmente.
P.S- Podem continuar me parabenizando, quero e mereço flores, mimos, bonbons mas quero também mais direitos e menos cretinice.