A representatividade das mulheres na política brasileira ainda está bem abaixo do que elas representam da população do país. Elas ocupam apenas 15% das cadeiras da Câmara dos Deputados, para se ter ideia da sub representação, mas são 51,8% da população do Brasil de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O baixo percentual na política reflete a dificuldade que elas têm até para se candidatar e mais ainda para se eleger. Para mudar esse cenário de sub-representação, foi desenvolvida uma plataforma que conecta candidatas a voluntários, pessoas que podem ajudá-las na campanha.
A plataforma impulsiona mulheres que são candidatas aos cargos legislativos, deputada estadual, deputada federal e senadora. “Mulheres na política têm muita dificuldade de acessar qualquer tipo de recursos, seja dinheiro, seja recursos de espaço nos partidos, seja recurso de estratégias”, diz a presidente do Instituto Vamos Juntas, Larissa Alfino.
Muitas mulheres procuravam o Instituto Vamos Juntas em busca de ajuda. “Desenvolvemos um algorítimo, que a gente brinca que é o nosso ‘Tinder’. A candidata preenche com tudo o que ela precisa e o voluntário preenche com tudo o que ele quer fazer, com o que está à disposição, e a plataforma calcula quais os perfis estão mais próximos ao voluntário”, diz Larissa.
O voluntariado é um recurso direto para campanhas que dispõem de rendas limitadas. Larissa lembra que muitas mulheres não têm dinheiro para fazer uma campanha de comunicação, mas se um voluntário fizer, elas terão uma propaganda mais competitiva. “Isso impacta a campanha de uma mulher”.
A plataforma está disponível em um site, que funciona bem para computador ou celular. Os desenvolvedores entenderam que o site seria mais eficaz do que um aplicativo para baixar, já que é para ser usado apenas uma vez.
Os voluntários e candidatas preenchem um formulário com as preferências políticas e de atividades demandadas e ofertadas. É possível que o voluntário possa buscar candidaturas do próprio Estado ou de outras localidades.
O voluntário indica se quer atuar na comunicação ou na mobilização. Ao final do formulário, é possível se declarar como de esquerda, centro ou direita. “Se a pessoa não tem clareza do posicionamento político, nós colocamos um quiz para preencher. O resultado dessa autodeclaração é uma tela com as mulheres que deram ‘match’ com o perfil do voluntário. Então, você pode fazer contato direto com essa candidata”, adianta Larissa.
A plataforma recebeu 1,2 mil acessos. “Temos uma taxa de 87% de adesão, de pessoas que fazem o quiz”. Já foram alocados cerca de cem voluntários nas campanhas e são 220 candidatas cadastradas na plataforma. “Pode ser um recurso bacana para elas. Muitas fazem campanha com R$ 20 mil. Então, esse trabalho voluntário pode virar a ‘mesa do poder’.”
Vamos juntas
O Instituto Vamos Juntas nasce de um movimento nacional e suprapartidário que apoia a trajetória das mulheres na política, desde quando são aspirantes a candidatas até quando se tornam parlamentares. Foi criado no final de 2019 com o propósito de fomentar candidaturas políticas.
No ano piloto, 2020, o movimento elegeu 12 vereadores no Brasil, apoiando com mentorias políticas, formação de equipes, apoio jurídico e psicológico. “Nosso objetivo é oferecer recursos alternativos ao que os partidos oferecem. O partido dá algum recurso, mas falta muito. Falta apoio emocional, apoio de rede”.
Além do apoio às candidaturas, o Vamos Juntas também trabalha com ‘advocacy’ no Congresso Nacional. O grupo atua em favor de políticas públicas para as mulheres e também em casos de cassação de mandatos de parlamentares que cometam crimes contra as mulheres. Em São Paulo, o grupo participou da mobilização para a cassação de Arthur do Val, que gravou vídeo misógino contra mulheres na Ucrânia, quando ele esteve de visita ao país invadido pela Rússia.
O Vamos Juntas apoia 150 campanhas de 26 estados e de 18 partidos. Cerca de 54% das candidatas apoiadas são mulheres não-brancas, mulheres indígenas, negras e quilombolas.
Representativida na política
“O Brasil está na lanterna do mundo em termos de representatividade. São números absurdos. Quando a gente olha para o Congresso só 15% ocupados por mulheres, nas prefeituras, 12% ocupados por mulheres. Isso reflete na qualidade de políticas públicas que nós temos hoje. Nós não temos, uma parcela da população representada nesse lugar e isso impacta muito a pauta das mulheres e o jeito que a gente faz política hoje”, avalia Larissa.
A representatividade mulheres deu um salto de 2016 para 2018, mas ainda não é suficiente. “São cerca de 80 mulheres num universo de 514 deputados. É vergonhoso para um país como o nosso”, conclui.