Por: Iasmin Soares
Em 1981, nasceu em Campina Grande, Josilene Maria de Oliveira, mulher negra que no futuro seria a primeira negra eleita vereadora da sua cidade natal.
Filha de uma trabalhadora doméstica, e mãe solo, estudou toda vida em escolas públicas. Passou para o curso de Serviço Social da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Começou a atuar politicamente na UEPB, no movimento estudantil, chegando a fazer parte do Centro Acadêmico de Serviço Social e concorrendo às eleições do Diretório Central dos estudantes.
A caminhada da atual vereadora de Campina Grande até a conquista do cargo é longa.
“A nossa luta política começa desde cedo nos movimentos sociais. É todo um caminho que vem fermentando a nossa luta política, avaliando a possibilidade de construir uma sociedade igualitária, que ainda não temos”, detalha a vereadora.
A parlamentar integrou diversas discussões, congressos e seminários em âmbitos nacional e internacional, sempre com foco em políticas públicas e ações voltadas para os segmentos mais vulneráveis. Participou ativamente de espaços de decisão e articulação, como o Conselho Municipal do Orçamento Participativo, Conselho Municipal de Políticas para as Mulheres, Conselho Estadual de Juventude da Paraíba (Cejup) e a Rede de Jovens do Nordeste.
E na militância voltada para a causa das juventudes, inicia a caminhada com a aproximação das atividades da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP), e depois integra a Associação de Juventude pelo Resgate a Cultura e Cidadania (AJURCC), da qual é sócia-fundadora e participa das atividades até hoje.
Jô Oliveira foi uma das primeiras mulheres negras que decidiram entrar na política política paraibana, tem orgulho de ser quem é, e luta diariamente pela emancipação das mulheres negras. Em 2015, participou da organização estadual da Marcha Nacional das Mulheres Negras, e seguiu no movimento de mulheres negras articulando movimentações.
Mas foi em 2016 que começou a vida política partidária, quando tentou uma vaga na câmara municipal de Campina Grande pelo PSB, não conseguindo se eleger. A vereadora não se imaginava no legislativo, mas sabia que era necessário uma pessoa como ela nesse espaço e decidiu se candidatar.
“Eu concorri a eleição de 2016, inclusive a mesma de Marielle Franco, mas confesso que fiquei resistente no início quando me indicaram para concorrer a vaga de vereadora. Foi importante a candidatura porque eu assumi que não seria uma coisa pessoal, sempre foi coletiva, e tem sido assim desde então”.
Ela não parou por aí, continuou na luta dos movimentos sociais e em 2020 tentou ser vereadora mais uma vez. Foi eleita com 3050 votos pelo PCdoB, e é muito atuante na casa do povo, em Campina Grande. Em 2022, Jô concorreu a uma vaga na Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) também pelo PCdoB, não chegou a se eleger, mas teve uma votação expressiva.
Jô é uma vereadora muito atuante na câmara municipal de Campina Grande, e sempre leva pautas necessárias para a plenária. Entretanto, diz que é difícil estar nesse lugar, mesmo tendo o apoio de tantas pessoas.
“A nossa capacidade vai ser mais uma vez testada, porque tem o entendimento que para fazer política você precisa estar atrelada a sobrenomes famosos. E aí, quando pessoas negras, e mais especificamente mulheres negras, se colocam para fazer essa política diferente do modelo vigente é difícil, nem sempre todo mundo tem a possibilidade de acessar os mesmo recursos”, observa.
Questionada sobre representatividade, a primeira mulher negra eleita vereadora de Campina Grande reafirma a importância de pessoas negras na política.
“Precisa ser a nossa voz falando sobre a gente. Porque a gente trata a política como esse espaço de representatividade, escolhendo pessoas que vão ter durante o mandato quatro anos para nos representar. Eaí, se essas pessoas não tem a vivência que nós, pessoas negras, temos, vai ser sempre o outro falando por nós. […] Enquanto mulher, pessoa negra, a gente vai sentindo falta de nos ver nesses espaços, onde são construídas políticas públicas. A gente tá há anos aí apresentando políticas públicas, mas não estamos lá.”, desabafa.
Jô Oliveira mostra diariamente, com seus comentários, sua força, perseverança e luta, que pessoas como ela devem almejar os espaços que quiserem. O poder legislativo, executivo e judiciário devem ser ocupados por mais pessoas negras, assim promove a verdadeira emancipação dessa população.