João e Cícero demonstram maturidade e se unem pela Capital – Por Nonato Guedes

Na contagem regressiva para o apagar das luzes de 2025, o governador João Azevêdo (PSB) e o prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena (MDB), até bem pouco tempo aliados políticos que romperam por causa da disputa eleitoral, protagonizaram, ontem, um gesto expressivo de maturidade e espírito público ao se unirem em favor dos interesses da Capital paraibana. Numa reunião conjunta e marcada pela civilidade, o prefeito fez a cessão do uso do prédio que vai abrigar o primeiro computador quântico do Brasil, com a outorga da Estação Ciência, Cultura e Artes Luciano Agra para a implantação do Centro Internacional de Computação Quântica da Paraíba. O documento foi assinado na Granja Santana, presentes o vice-governador Lucas Ribeiro (que vai assumir a titularidade em abril e disputará o governo com o apoio de João) e o vice-prefeito Leo Bezerra (PSB), que também será titular na prefeitura e estará engajado na campanha de Cícero Lucena ao governo.

O governador deixou claro, em postagem nas suas redes sociais, que havia pedido a cessão do prédio da Estação das Artes em julho, quando era excelente a parceria administrativa entre Estado e município, ainda não contaminada pela divergência política. A Estação das Artes foi um empreendimento da lavra do ex-prefeito de João Pessoa e ex-governador Ricardo Coutinho (PT), que idealizou um espaço interativo para a promoção de eventos culturais e artísticos de repercussão, mas a verdade é que o equipamento se encontrava abandonado e, pior ainda, sendo terceirizado para eventos com desvio de finalidade, patrocinados pela iniciativa privada, a exemplo de leilões de cavalos e shows de cantores famosos contratados por empresários, não pelo poder público, com utilização de banheiros químicos. Bastou um desses eventos alcançar repercussão negativa para que a administração do prefeito Cícero Lucena ficasse desgastada, na berlinda.

Quem deu amplitude à denúncia de descaracterização da Estação das Artes foi o próprio ex-governador Ricardo Coutinho, pré-candidato a deputado federal, que se utilizou de suas redes sociais para protestar, com veemência, contra o descaso da gestão do prefeito Cícero Lucena em relação ao empreendimento. A indignação espalhou-se por segmentos de elite da sociedade pessoense e paraibana, criando um ambiente insustentável e farta exploração negativa na mídia, com manifestações, inclusive, de órgãos do Ministério Público e outros de fiscalização e controle social, verberando contra o abusivo desvio de funções, com desperdício de recursos públicos e descaracterização de uma obra que caberia ao poder público fazer funcionar. A Estação de Artes integra um complexo arquitetônico, artístico e cultural, que abriga ainda o Teatro Pedra do Reino, de renome internacional. Confrontada com as denúncias de abandono, a gestão de Cícero titubeou em oferecer respostas para um melhor aproveitamento do espaço e, pelo visto, preferiu render-se à evidência do apelo do governo do Estado, lá atrás, para ceder o prédio e facilitar que ele tivesse função utilitária, que é o que deverá acontecer a partir de agora.

Em plena briga política entre o governador e o prefeito, a população da Capital paraibana acabou sendo a grande beneficiada. Com investimentos de R$ 75 milhões, metade do governo da Paraíba e os outros 50% do governo federal, por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o Centro Internacional de Computação Quântica (Ciquanta) vai revolucionar os processos computacionais em diversas áreas, como indústria e medicina, abrindo janelas de oportunidades no Estado, principalmente para os jovens que ingressam todos os anos no mercado de trabalho. A iniciativa prevê a instalação de um computador quântico, com transferência de tecnologia e formação de pessoal especializado. O Centro ainda trabalhará com universidades, empresas e institutos de pesquisa para fomentar a inovação no setor produtivo.

Ao repassar a administração do equipamento, a prefeitura abre terreno para a implantação de uma estrutura avançada dedicada à pesquisa, à formação de especialistas e ao desenvolvimento tecnológico. Nas palavras do prefeito Cícero Lucena, significa um passo que muda o patamar da cidade. “Sem dúvida, isso marca um novo momento para o nosso Estado e, em particular, para João Pessoa”, concluiu. Da parte do governador João Azevêdo, a sua atitude demonstrou responsabilidade, espírito público e compromisso com o desenvolvimento de João Pessoa, com quem tem profundas relações afetivas. Foi um gesto de grandeza, coerente com a sua filosofia, proclamada desde que se investiu no Executivo, de governar indistintamente para todos os municípios da Paraíba, sem discriminar cidades em virtude de cor partidária ou política. Sozinha, a prefeitura da Capital não avançaria no funcionamento do equipamento. Com a entrada do Estado em cena, ganha a própria Paraíba, com mais um nicho de pesquisa, tecnologia e produção de conhecimento. A cena da Granja Santana fica como uma exceção honrosa, uma bela lição de maturidade e descortínio público na Paraíba.