A Embaixada de Israel em Brasília expressou seu protesto contra uma resolução do Partido dos Trabalhadores (PT) que acusa Israel de “genocídio” e “crimes de guerra”. Em sua conta no antigo Twitter, a embaixada lamentou que o PT compare o governo israelense, que busca proteger seus cidadãos, com a organização terrorista Hamas, responsável por assassinar famílias inteiras. A representação diplomática ressaltou a importância de separar claramente o Hamas dos palestinos.
“Posição da Embaixada de Israel após as declarações do Partido dos Trabalhadores (PT): Qualquer pessoa que pense que o assassinato bárbaro, a violação e a decapitação de pessoas é uma posição política, ou que se trata apenas de uma luta política legítima, possui uma extrema falta de compreensão da atual situação. É muito lamentável que um partido que defende os direitos humanos compare a organização terrorista Hamas, que vai de casa em casa para assassinar famílias inteiras, com o que o governo israelense está fazendo para proteger os seus cidadãos. Deve ser feita uma forte separação entre a organização terrorista Hamas e os palestinos.”, respondeu a embaixada israelense.
A resolução divulgada pelo PT condena os “ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestro de civis” cometidos tanto pelo Hamas quanto por Israel. O partido acusa Israel de realizar um “genocídio” contra a população de Gaza por meio de uma série de “crimes de guerra”.
Em resposta à reação da embaixada, o PT divulgou um comunicado considerando “totalmente falsa e maliciosa a interpretação” da sua resolução. O partido responsabilizou Israel pelo bombardeio de um hospital em Gaza e questionou a autoridade moral do governo israelense para falar em direitos humanos.
Enquanto isso, desde o ataque do Hamas no último dia 7 e o início da retaliação de Israel na Faixa de Gaza, o ex-presidente Lula tem dialogado com líderes internacionais para buscar o fim das hostilidades e a abertura de um corredor humanitário para retirar civis de Gaza. O presidente brasileiro condenou os atos terroristas cometidos pelo Hamas.
Líderes da direita acusaram Lula de não ter sido mais enérgico em sua condenação ao Hamas, que não é classificado como terrorista pelo governo brasileiro. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil explicou que segue a classificação do Conselho de Segurança da ONU, que não considera o Hamas um grupo terrorista, ao contrário dos Estados Unidos e da União Europeia.
A diplomacia israelense também criticou as declarações de ministros da ala de esquerda radical do governo espanhol, que pediram que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, fosse denunciado ao Tribunal Penal Internacional por “crimes de guerra” e “tentativa de genocídio” em Gaza.
LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DO PT
“O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, reunido no dia 16 de outubro de 2023, aprovou a seguinte resolução sobre a situação na Palestina e Israel:
O PT apoia, desde os anos 1980, uma luta do povo palestino pela sua soberania nacional, bem como a Resolução da ONU pela constituição de dois Estados Nacionais, o Estado da Palestina e o Estado de Israel, garantindo o direito à autodeterminação, soberania, autonomia e condições de desenvolvimento, com economia viável para a Palestina, buscando a convivência entre os dois povos;
O PT historicamente mantém relações partidárias unicamente com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), assim como com a Autoridade Nacional Palestina sediada em Ramallah;
O PT condena, desde a sua fundação, todo e qualquer ato de violência contra civis, venham de onde vierem. Por isso, condenamos os assassinatos e sequestro de civis, cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel, que realizam, neste exato momento, um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra;
O PT parabeniza os esforços compreendidos pelo Governo brasileiro, sob a condução do Presidente Lula, direto à repatriação rápida de brasileiros na região do conflito e pelo acesso à ajuda humanitária na região da Faixa de Gaza, com a retirada dos bloqueios fiscais por Israel que impactam diretamente à população civil, além do pronto restabelecimento do fornecimento de água, energia elétrica, alimentos, medicamentos e combustíveis na região, bem como a defesa da liberação imediata dos reféns civis israelenses.
O PT manifesta apoio à atuação do Brasil, inclusive no Conselho de Segurança da ONU, em linha com a tradição diplomática brasileira, em prol de um cessar fogo e pelo cumprimento das resoluções da ONU, especialmente como que garante a existência do Estado da Palestina e uma relação de importação com Israel;
O PT alerta contra os riscos de uma escalada do conflito. O mundo não precisa de mais guerras. O mundo precisa de paz;
O PT convocou sua militância para participar das atividades em defesa da paz, em defesa da solução dos dois Estados (Palestina e Israel) e em defesa dos direitos do povo palestino a uma vida, importação e soberania nacional.”
PT respondeu á nota israelense
Leia a íntegra da resposta petista
“É totalmente falsa e maliciosa a interpretação que a Embaixada de Israel no Brasil faz e divulga em nota oficial sobre a Resolução do PT, divulgada ontem, a propósito da situação de Gaza.
O Diretório Nacional condenou, sim, “os ataques inaceitáveis, assassinatos e sequestro de civis, cometidos tanto pelo Hamas quanto pelo Estado de Israel”.
E advertiu que a retaliação do governo de Israel configura “um genocídio contra a população de Gaza, por meio de um conjunto de crimes de guerra”, como o corte de água potável, energia, alimentos e remédios, além de bombardeios contra a população civil.
Por volta das 15h30 de hoje, enquanto a Embaixada de Israel divulgava sua nota contra o PT, pelo menos 500 civis eram assassinados no bombardeio a um grande hospital em Gaza.
Quem representa no Brasil o governo que fez um ataque desta natureza não tem autoridade moral para falar em direitos humanos.
Todos têm direito a defender seu povo, mas a busca por justiça não se confunde com vingança nem pode se dar por meio da Lei de Talião.
A posição do PT é semelhante à da porta-voz da ONU para Direitos Humanos, Ravina Shamdasani: “Não se pode ter uma punição coletiva como resposta aos ataques horríveis [do Hamas]”.
Afirmar que o PT considera “o assassinato bárbaro, a violação e a decapitação de pessoas luta política legitima”, como faz a nota da embaixada, é uma atitude inaceitável por parte de quem tem a responsabilidade de representar no Brasil um país amigo.
É um ataque injustificável a um partido que ao longo de sua história abriga militantes palestinos, árabes e judeus e defende a coexistência dos Estados de Israel e da Palestina.”
Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores
Romênio Pereira, secretário de Relações Internacionais do PT
Brasília, 17 de outubro de 2023