“Em nenhum momento o Brasil vai negociar como se fosse um país pequeno diante de um país grande”, disse o presidente em sua primeira entrevista ao jornal americano em 13 anos
Às vésperas da entrada em vigor da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou duramente a decisão do presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Em entrevista ao New York Times, Lula afirmou que o Brasil não teme a medida, mas exige ser tratado com respeito.
“Tenha certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência”, declarou o presidente. “Eu trato todos com grande respeito. Mas quero ser tratado com respeito.”
Segundo a reportagem do jornal americano, “O Sr. Lula concedeu sua primeira entrevista ao The New York Times em 13 anos na terça-feira, em parte porque queria falar com o povo americano sobre sua frustração com o Sr. Trump”.
A sobretaxa imposta por Trump, que entra em vigor nesta sexta-feira (1º), atinge itens estratégicos da pauta exportadora brasileira, como carne, café e suco de laranja. Para Lula, a medida representa uma violação da soberania brasileira e rompe com padrões tradicionais de diplomacia.
“Em nenhum momento o Brasil vai negociar como se fosse um país pequeno diante de um país grande. Nós conhecemos o poder econômico dos Estados Unidos, reconhecemos o poder militar dos Estados Unidos, reconhecemos o tamanho tecnológico dos Estados Unidos. Mas isso não nos deixa com medo. Nos deixa preocupados”, declarou.
Anúncio vergonhoso
O presidente brasileiro também criticou a forma como a decisão foi anunciada — por meio das redes sociais. “Foi vergonhoso. O comportamento do presidente Trump saiu de todos os padrões de negociação e de diplomacia”, disse. “Quando você tem uma discordância comercial ou política, você pega o telefone, marca uma reunião, conversa para tentar resolver o problema. O que você não faz é taxar e dar um ultimato.”
Lula ainda associou a atitude de Trump a um possível gesto de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente réu por tentativa de golpe. Para o petista, essa interferência pode custar caro aos dois países. “Nem o povo americano nem o povo brasileiro merecem isso. Porque vamos passar de uma relação diplomática de 201 anos de ganha-ganha para uma relação política de perde-perde.”
Segundo ele, quem também pagará a conta serão os próprios consumidores norte-americanos, com o aumento no preço de produtos importados do Brasil. “O custo será sentido na mesa dos americanos”, alertou.