Lula quer mostrar ‘equívocos nas taxações’ em possível reunião com Trump

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, em coletiva de imprensa na Indonésia nesta sexta-feira (24), que não existe “assunto proibido” na conversa que deve ter com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Malásia.

“Tenho todo interesse nessa reunião. Quero mostrar, com números, que houve equívocos nas taxações”, disse Lula.

O encontro ainda não foi confirmado oficialmente pelos dois governos, mas o presidente tratou o compromisso como certo. A expectativa é de que a reunião ocorra neste domingo (26), em Kuala Lumpur. Será o primeiro encontro oficial entre os dois líderes desde o início da crise provocada pelo tarifaço de 50% imposto pelos EUA a produtos brasileiros.

O Itamaraty reservou parte do domingo para reuniões bilaterais de Lula. Até esta terça-feira (21), apenas o encontro com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, estava confirmado.

Entre os temas que pretende abordar, Lula citou o comércio bilateral, as sanções aplicadas pelos Estados Unidos a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e os recentes ataques norte-americanos a embarcações na costa da Venezuela. O presidente também mencionou que tratará da COP 30 e da perfuração da Petrobras na Foz do Amazonas.

Aproximação entre Lula e Trump

Desde setembro, Lula e Trump vêm estreitando o diálogo. Os dois se encontraram rapidamente durante a Assembleia Geral da ONU, ocasião que Trump descreveu como de “boa química”. Posteriormente, conversaram por cerca de 30 minutos por telefone, em ligação articulada pelas diplomacias dos dois países.

Em 16 de outubro, o chanceler Mauro Vieira reuniu-se em Washington com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, para discutir comércio e temas bilaterais. Segundo nota conjunta, o encontro foi considerado “muito positivo”.

Lula desembarcou nesta sexta-feira na Malásia, onde participará da Cúpula da ASEAN, bloco que reúne dez países do Sudeste Asiático — entre eles Indonésia, Filipinas, Singapura, Tailândia e Vietnã —, com foco em cooperação regional e crescimento econômico.

O presidente afirmou que espera pela reunião “há algum tempo” e destacou a importância do diálogo direto:

“Relação humana é química. Não é a mesma coisa fazer digital. É olhar no olho, pegar na mão, abraçar a pessoa.”

Para Lula, não há divergências que não possam ser resolvidas com uma conversa franca.

“Será uma reunião livre. Vamos poder dizer o que quisermos e ouvir o que talvez não queiramos. Estou convencido de que será bom para o Brasil e para os Estados Unidos.”

Críticas à política externa dos EUA

Na quinta-feira (23), Lula voltou a defender a criação de uma moeda alternativa ao dólar para transações comerciais entre os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e Emirados Árabes Unidos).

“Nós queremos multilateralismo, não unilateralismo. Tanto o Brasil quanto a Indonésia têm interesse em negociar com as próprias moedas. Essa é uma mudança necessária”, afirmou.

O presidente também criticou os ataques dos Estados Unidos a embarcações no mar do Caribe, sob a justificativa de combater o tráfico de drogas proveniente da Venezuela. Trump admitiu ter autorizado operações secretas da CIA no país governado por Nicolás Maduro.

Para Lula, tais ações representam um risco à ordem internacional.

“Se o mundo virar uma terra sem lei, vai ficar muito difícil. Não se pode invadir a ‘terra dos outros’ sem respeitar a Constituição de cada país”, declarou.

Lula voltou a defender a atuação da Petrobras na margem equatorial da Foz do Amazonas, argumentando que a exploração ainda está em fase de pesquisa.

“A Petrobras tem expertise e histórico sem vazamentos. É uma empresa que pode explorar sem causar danos”, disse.

Segundo ele, o Brasil quer mostrar ao mundo que é “um dos países com mais energia renovável do planeta” e que possui “gasolina e diesel mais puros que os demais”.

“É muito fácil falar em fim do combustível fóssil, mas ninguém hoje tem condição de se libertar totalmente dele. Precisamos usar o dinheiro do petróleo para financiar a transição energética”, concluiu.