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Lula tem “diálogo de surdos” com Trump mas marca posição no Brasil – Por Nonato Guedes

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em artigo publicado ontem no jornal “The New York Times”, mandou um recado direto ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump: não irá negociar a soberania e a democracia brasileiras por causa de sanções econômicas impostas pelo governo daquele país em represália a acontecimentos políticos ocorridos no cenário nacional. O posicionamento de Lula se deu em meio a uma escalada da retórica norte-americana depois da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado.

Na opinião dos colunistas Josias de Souza e Jamil Chade, do UOL, Lula estabeleceu um “diálogo de surdos” com o chefe do Governo americano, mas alcançou um objetivo estratégico: o de marcar posição junto aos brasileiros diante da ofensiva de retaliações do governo americano e da interferência deste em decisões que afetam o nosso país. Essa postura de Lula é contabilizada como ganho tático na preparação da sua campanha à reeleição à Presidência da República em 2026, inclusive, porque a condenação de Bolsonaro, com sua consequente inelegibilidade, deixou a direita brasileira perplexa e sem rumos para combater o líder petista nas urnas. Desse ponto de vista, o interesse de Lula com o artigo que escreveu não foi propriamente o de sensibilizar Trump, que é aliado de Bolsonaro, a se abrir a um entendimento sobre temas comerciais das relações bilaterais, mas o de se firmar perante o público interno, mostrando compromisso concreto com a defesa da independência territorial brasileira. No artigo, o mandatário brasileiro se disse orgulhoso da decisão da Justiça e rebateu a Casa Branca, que havia tratado a sentença do STF como uma “caça às bruxas”. Lula ainda chamou os argumentos de Trump de “falsos” no que se refere à suposta censura a empresas de tecnologia em funcionamento no Brasil. – Presidente Trump, continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos.

Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em discussão – cravou Luiz Inácio Lula da Silva. Ele explicou que decidiu escrever o artigo com o intuito de estabelecer um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos, lembrando que ao longo de décadas de negociações, primeiro como líder sindical e depois como presidente da República, aprendeu a ouvir todos os lados e a levar em consideração todos os interesses em jogo. “Foi por isso que examinei cuidadosamente os argumentos apresentados pelo governo Trump para impor uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros”, acrescentou Lula, pontuando que são motivações legítimas as lutas para trazer de volta os empregos americanos e a reindustrialização mas que o recurso a ações unilaterais contra Estados individuais significa prescrever o remédio errado porque o multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas.

Lula advertiu que o aumento da tarifa, imposto ao Brasil neste verão, não é apenas equivocado mas também ilógico, pois os Estados Unidos não têm déficit comercial com o nosso país nem estão sujeitos a altas tarifas. Além do mais, nos últimos 15 anos, foi acumulado um superávit de US$ 410 bilhões no comércio bilateral de bens e serviços e quase 75% das exportações dos Estados Unidos para o Brasil entram isentas de impostos. Segundo os cálculos do governo brasileiro, a tarifa média efetiva sobre os produtos americanos é de apenas 2,7%. Oito dos dez principais itens têm tarifa zero, incluindo petróleo, aeronaves, gás natural e carvão. Por isso, alega, a falta de justificativa econômica por trás das medidas de retaliação deixa claro que a motivação da Casa Branca é política.

“O governo dos Estados Unidos está usando tarifas e a Lei Magnitsky para buscar impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que orquestrou uma tentativa fracassada de golpe em 8 de janeiro de 2023, em um esforço para subverter a vontade popular expressa nas urnas”, enfatizou o presidente Lula, com veemência. Lula afirma que são igualmente infundadas as acusações do governo americano sobre práticas desleais do Brasil no comércio digital e nos serviços de pagamento eletrônico e sua suposta falha em fazer cumprir as leis ambientais. “Ao contrário de ser injusto com os operadores financeiros dos Estados Unidos, o sistema de pagamentos digitais do Brasil, conhecido como Pix, possibilitou a inclusão financeira de milhões de cidadãos e empresas. Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que facilita as transações e estimula a economia”, ressalta.

O mandatário brasileiro menciona outras medidas politicamente corretas adotadas pelo seu governo como a redução, pela metade, da taxa de desmatamento na Amazônia e a apreensão de centenas de milhões de dólares em bens usados em crimes ambientais. No fecho da carta dirigida ao presidente Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é taxativo: “Quando os Estados Unidos abandonam uma relação de mais de 200 anos como a que mantêm com o Brasil, todos perdem. Não há diferenças ideológicas que devam impedir dois governos de trabalhar juntos em áreas onde têm objetivos comuns”. Um libelo oportuno para esclarecer ao mundo o que está por trás da ofensiva belicosa do governo de Trump contra o Brasil e os brasileiros.

 

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