Mauro Cid diz que Wajngarten e defesa de Bolsonaro procuraram sua filha de 14 anos

Alexandre de Moraes determinou que a PF ouça todos os envolvidos; advogados são acusados também de abordar de forma “intimidadora” a mãe de Cid

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Polícia Federal ouça o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten e os advogados Paulo Cunha Bueno e Luiz Eduardo Kuntz por suspeita de tentativa de obstrução de investigação. A medida foi tomada após o tenente-coronel Mauro Cid, delator da trama golpista, acusar o grupo de ter feito contatos indevidos com sua filha menor de idade.

Segundo a decisão, os três devem prestar depoimento no prazo de até cinco dias. Wajngarten, que à época era advogado de Jair Bolsonaro (PL), e os outros dois advogados são citados pela defesa de Cid como responsáveis por abordagens diretas à filha do ex-ajudante de ordens, de apenas 14 anos, com o objetivo de influenciar seu posicionamento e levantar informações sobre a estratégia de defesa do militar.

De acordo com os advogados de Cid, Luiz Eduardo Kuntz teria feito diversas tentativas de contato com a adolescente por meio de mensagens no WhatsApp. Em uma das conversas, ele teria perguntado se ela havia falado com a mãe, Gabriela Ribeiro Cid, e tentado descobrir quais advogados estavam atuando na defesa do pai. Em tom sugestivo, Kuntz teria ainda dito que “toda segunda-feira limpava o celular”, insinuando que a adolescente deveria apagar as mensagens trocadas.

A defesa afirma que Kuntz chegou a propor, em dezembro de 2023, um encontro direto com Cid, mesmo sabendo que o tenente-coronel estava proibido de manter contato com outros investigados por força das medidas cautelares estabelecidas em seu acordo de colaboração premiada.

Além disso, tanto Kuntz quanto Paulo Cunha Bueno são acusados de abordar de forma “intimidadora” a mãe de Cid, Agnes Barbosa Cid, durante um evento em São Paulo. Já Wajngarten teria feito uma “intensa tentativa” de contato com a filha e com a esposa do militar, segundo os relatos dos advogados de Cid.

Wajngarten e Kuntz rebatem acusações

Em nota publicada nas redes sociais, Fabio Wajngarten classificou a decisão de Moraes como uma “criminalização da advocacia”. “É uma cortina de fumaça para tentar ocultar a expressa falta de voluntariedade do réu delator Mauro Cid e a consequente nulidade da colaboração. Estarei, como sempre estive, ao lado da verdade e da Justiça”, escreveu o ex-secretário de Comunicação.

Já o advogado Luiz Eduardo Kuntz afirma que Cid violou as regras do acordo de delação ao manter um perfil no Instagram (@gabrielar702), por meio do qual teria se comunicado com ele. Kuntz também nega ter procurado diretamente o militar para tratar da investigação relacionada ao plano golpista. Em entrevista ao UOL, declarou que mantinha contato com Cid por já conhecê-lo previamente, mas que “tomava o cuidado de não entrar em detalhes” sobre o processo.

Apesar disso, os advogados de Cid alegam que as mensagens trocadas são “incontroversas” e mostram uma tentativa deliberada de influenciar o colaborador e interferir no andamento das investigações. Eles classificam as ações como “ardilosas” e em desacordo com os termos da delação firmada e homologada pelo STF.

A decisão de Moraes amplia o cerco sobre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro e aprofunda as investigações sobre possíveis tentativas de obstrução das apurações sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.