Ministro da Justiça responde a insinuações do embaixador de Israel sobre uso político da suposta ligação entre PCC e Hezbollah
O embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, deu uma entrevista ao jornal O Globo insinuando que o grupo Hezbollah, baseado no Líbano, teria integrantes infiltrados no Brasil. Ele afirmou que isso seria possível porque há pessoas no país que os ajudam. Zonshine também fez comentários insinuando a particiação do presidente Lula. A entrevista ocorreu após uma reunião entre o embaixador e o ex-presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.
A postura do governo brasileiro, que não apoiou Israel em sua empreitada na Faixa de Gaza, tem contrariado a administração do primeiro-ministro de extrema direita Benjamin Netanyahu, que vem tentando arrastar o Brasil para o olho do furacão. Nesta tarde, uma notícia de que a Polícia Federal teria prendido pessoas no país que teriam relação com o Hezbollah, e que estariam planejando atentados contra a comunidade judaica daqui, gerou desconfiança entre especialistas no assunto. Até o Mossad, o serviço secreto israelense, confirmou a história.
Zonshine já havia causado mal-estar e uma ligeira crise diplomática por conta de seu perfil extremista e estilo “sem noção”. Na reunião com Bolsonaro, ele apresentou supostos “vídeos exclusivos” dos ataques do Hamas ao território de Israel em 7 de outubro.
O ministro da Justiça Flávio Dino, postou uma nota na rede soxial X (antigo Twitter), onde reafirma a soberania da Polícia Federal do Brasil, na nota Dino que claramente responde ao caos gerado com as investigações de suposta ligação entre PCC e o Hezbollah no país, afirma que o nenhuma força estrangeira “manda” na Polícia Federal. Dino disse também que as investigações a respeito da suposta ligação entre os terroristas e o PCC são decorrentes de investigações iniciadas antes dos atos de guerra entre Israel e Palestina. E reafirmou que não pe cabível “usar investigações que nos cabem para fins de propaganda de seus interesses políticos;”.
Leia a íntegra da nota do Ministro abaixo:
1.O Brasil é um país soberano. A cooperação jurídica e policial existe de modo amplo, com países de diferentes matizes ideológicos, tendo por base os acordos internacionais.
2.Nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal do Brasil. E nenhum representante de governo estrangeiro pode pretender antecipar resultado de investigação conduzida pela Polícia Federal, ainda em andamento;
3.Quem faz análise da plausibilidade de indícios que constam de relatórios internacionais são os delegados da Polícia Federal, que submetem pedidos ao nosso Poder Judiciário;
4.Os mandados cumpridos ontem, sobre possível caso de terrorismo, derivaram de decisões do Poder Judiciário do Brasil. Se indícios existem, é DEVER da Polícia Federal investigar, para CONFIRMAR OU NÃO as hipóteses investigativas;
5.A conduta da Polícia Federal decorre exclusivamente das leis brasileiras, e nada tem a ver com conflitos internacionais. Não cabe à Polícia Federal analisar temas de política externa;
6.As investigações da Polícia Federal começaram ANTES da deflagração das tragédias em curso na cena internacional;
7.Apreciamos a cooperação internacional cabível, mas repelimos que qualquer autoridade estrangeira cogite dirigir os órgãos policiais brasileiros, ou usar investigações que nos cabem para fins de propaganda de seus interesses políticos;
8.Quando legalmente oportuno, a Polícia Federal apresentará ao Poder Judiciário do Brasil os resultados da investigação técnica, isenta e com apoio em provas analisadas EXCLUSIVAMENTE pelas autoridades brasileiras.