NOVA GEOPOLÍTICA PARTIDÁRIA: Federações redesenham o congresso e preparam terreno para 2026

Com as movimentações iniciais para a disputa presidencial de 2026, partidos políticos intensificam articulações para formação de novas federações partidárias. Criada pela reforma eleitoral de 2021, o instrumento jurídico tem se consolidado como alternativa à extinta coligação proporcional, permitindo que legendas atuem de forma unificada por, no mínimo, quatro anos.

Desde sua implementação, três federações foram formalmente registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE): a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), a Federação PSOL-Rede e a Federação PSDB-Cidadania (encerrada). Essas alianças atuam de forma integrada no Congresso Nacional e nas eleições, respeitando regras comuns e fidelidade partidária.

A tendência para os próximos anos, no entanto, é de ampliação desse modelo. Partidos de médio e grande porte negociam novas composições com o objetivo de fortalecer suas bancadas, garantir acesso ao fundo partidário e superar a cláusula de barreira — mecanismo que restringe o funcionamento parlamentar de legendas com baixa votação.

União Brasil e PP criam maior federação do país

As cúpulas de União Brasil e Progressistas (PP) formalizaram uma federação que vai se tornar a maior do Congresso Nacional. Juntas, as siglas somam 109 deputados federais e 14 senadores ultrapassando o PL e a Federação Brasil da Esperança. Com base em diversos estados, além de forte presença em prefeituras e governos estaduais, a nova federação, que carrega o nome de União Progressista Brasileira, é considerada uma das apostas do centrão para protagonizar a sucessão presidencial de 2026.

MDB e Republicanos ainda em construção

Outra aliança que ainda tem chances de acontecer, envolve o MDB e o Republicanos. Apesar das desconversas, interlocutores de ambas as legendas ainda comentam sobre tratativas em curso, com possibilidade de inclusão do PSD, partido comandado por Gilberto Kassab. A ideia é criar um bloco de centro com peso institucional para disputar espaço tanto no Legislativo quanto no Executivo, em uma eventual candidatura própria à Presidência da República. Somados, MDB e Republicanos reúnem hoje 88 deputados federais e 15 senadores, formando uma possível segunda maior força legislativa caso a federação seja confirmada.

PSDB busca reconfiguração com novos aliados

Enfrentando uma crise de identidade e redução expressiva de sua bancada nos últimos anos, o PSDB — que encerrou a federação com o Cidadania — busca ampliar seu campo de alianças. As conversas mais recentes envolviam o Podemos, partido que tem demonstrado interesse em unificar forças no campo da centro-direita liberal.

Quando ainda era formada, a federação PSDB-Cidadania possuía 17 deputados e 3 senadores. Com a eventual entrada do Podemos, o grupo poderia atingir até 29 deputados federais e ampliar sua presença no Senado.

Há ainda especulações sobre uma aproximação com o partido Novo, embora a fusão esbarre em divergências estatutárias.

PSB PDT e Cidadania buscam federação para fortalecer campo da centro-esquerda

As conversas para a formação de uma nova federação partidária entre PSB, PDT e Cidadania avançam como parte de uma estratégia para reorganizar e fortalecer o campo democrático de centro-esquerda no Brasil. Lideranças como João Campos (PSB) têm defendido a união como resposta aos desafios eleitorais, à necessidade de ampliar a representação no Congresso e à crescente pressão da cláusula de barreira. A proposta surge em meio à percepção de que partidos médios e pequenos precisam buscar alternativas para manter relevância política.

Com histórico de diálogo desde 2022, PSB e PDT voltam à mesa de negociações, enquanto o Cidadania, segundo seu presidente Comte Bittencourt, confirma conversas avançadas com o PSB. O PDT, por sua vez, enfrenta um momento de transição interna e vê na federação uma saída para preservar espaço político e superar limitações impostas pelas novas regras eleitorais.

Caso a federação se concretize, o grupo contará com 37 deputados e 7 senadores. Seriam 17 deputados do PDT, 15 do PSB e 5 do Cidadania, além de 4 senadores do PSB e 3 do PDT. A aliança formaria uma bancada de médio porte, apoiada por lideranças de outros partidos de esquerda.

Cláusula de barreira e fundo eleitoral impulsionam movimentações

As articulações ganham fôlego diante da cláusula de desempenho, que exige votação mínima para que partidos tenham direito a fundo partidário e tempo de propaganda em rádio e televisão. Com o aumento das exigências a partir das próximas eleições, a federação tem se mostrado uma saída viável para legendas médias que correm o risco de desaparecer do mapa político.

Além disso, a formação de federações permite a partidos menores acessar recursos de campanha de maneira mais eficiente, ao passo que favorece a construção de estratégias eleitorais mais coesas e duradouras.

Prazo e desafios

Para que tenham validade nas eleições de 2026, as federações devem estar registradas no TSE até seis meses antes do pleito, ou seja, até abril daquele ano. Antes disso, os partidos precisam aprovar os estatutos em convenções nacionais, estabelecer regras de convivência interna e resolver disputas regionais — o que, na prática, tem se mostrado o principal obstáculo à consolidação desses blocos.

Cenário político redesenhado

Se todas as negociações em andamento forem bem-sucedidas, o cenário eleitoral de 2026 poderá ser marcado por menos fragmentação partidária e disputas entre blocos mais estruturados e duradouros. Especialistas avaliam que a tendência é de formação de quatro a cinco grandes federações com real capacidade de influência nacional.

A consolidação desse novo arranjo poderá redefinir o equilíbrio de forças no Congresso e influenciar diretamente os rumos da sucessão presidencial, que, até o momento, ainda está em aberto.