O enredo da luta por ‘protagonismo’ que se dá entre Adriano e Azevêdo – Por Nonato Guedes

No retorno de Portugal, onde liderou comitiva da Paraíba interessada em atrair investidores em projetos turísticos que sua gestão luta para “deslanchar”, o governador João Azevêdo (PSB) fez acenos de prestígio a aliados políticos que compõem a sua base de apoio, num esforço para superar estragos decorrentes de impasses que ganharam força no período de sua ausência. Nesse sentido foi que o chefe do Executivo desviou-se de polêmica com o deputado Adriano Galdino (Republicanos) por conta da sua articulação pessoal para emplacar a filha Alanna Galdino como conselheira do Tribunal de Contas do Estado na vaga decorrente da aposentadoria de Arthur Cunha Lima. A polêmica, de resto, seria inócua ou improdutiva porque o processo de formalização da escolha de Alanna avançou com celeridade, já tendo a indicação sido aprovada, ontem, na CCJ e estando pautada para hoje a votação em plenário, com garantia de apoios expressivos de deputados, inclusive, do líder do governo, Chico Mendes, do PSB.
Em paralelo, reponta o fato de que a indicação de nome para preenchimento da vaga no TCE é prerrogativa do Poder Legislativo Estadual, que poderia debruçar-se sobre a opção por um deputado ou por um nome oriundo da sociedade que preenchesse requisitos exigidos por diretivas do tribunal e por outros dispositivos legais concomitantes. No entendimento do relator da matéria na CCJ, Felipe Leitão, a filha do presidente da Casa de Epitácio Pessoa atende às exigências demandadas, habilitando-se, portanto, a integrar os quadros da Corte de Contas criada no governo de João Agripino Filho na década de 70. O próprio governador João Azevêdo, ao ser indagado por jornalistas, não questionou a competência legislativa e ainda indignou-se diante da “cultura” vigente na Paraíba, segundo ele, que agita a interferência do Executivo em agendas que não são de sua alçada. João Azevêdo obtemperou que não tem o perfil “intervencionista” que alguns atribuem a governantes como expressão de mandonismo ou de ocupação de espaços a todo custo.

Ficou patente a percepção, por parte do chefe do Executivo, do desgaste que significaria sua entrada em “bola dividida” com o deputado Adriano Galdino, ainda mais em questões que desfavorecem o poder de decisão do governo. O máximo que Azevêdo poderia fazer no processo seria conseguir ser ouvido por Adriano, a título de cortesia, a respeito da feira de nomes que eclodiu após a desistência do deputado Tião Gomes (PSB), convencido a não desafiar impedimentos legais que o tornam inabilitado para a vaga específica de Arthur Cunha Lima e, segundo especialistas, para mais duas vagas a serem abertas, com as aposentadorias dos conselheiros Fernando Rodrigues Catão e Antônio Nominando Diniz Filho, entre outubro próximo e meados do próximo ano. A esse respeito, aliás, vai se firmando nos meios políticos a convicção de que dificilmente Azevêdo será partícipe das futuras escolhas, que ainda serão de competência da Assembleia e que, desta feita, deverão contemplar deputados sequiosos de ocupar um posto que é considerado uma prebenda pelo resto da vida, em face da vitaliciedade de que se reveste e das vantagens que proporciona, sendo cobiçado não apenas na Paraíba, mas em inúmeros Estados brasileiros, onde até ministros do governo federal se envolveram na luta para credenciar familiares de primeiríssimo grau nessas Cortes.
Em tese, o deputado Adriano Galdino procurou trilhar os apontamentos mínimos referidos em Lei para legitimar indicação de nomes pela Assembleia Legislativa para compor os quadros do Tribunal de Contas do Estado. Político sagaz, habilidoso, experiente, que alcançou um protagonismo inédito na história recente no cenário de poder local, a partir da bem-sucedida construção de um projeto hegemônico à frente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino atuou para cercar-se de condições objetivas favoráveis ao desideratum de indicação da filha para o tribunal. Diagnosticou, com precisão cirúrgica, que havia brechas para levar adiante o projeto de poder, diante da fragilidade da candidatura do deputado Tião Gomes à cadeira. Solidarizou-se com a pretensão do parlamentar até onde isto foi possível ou até onde os prazos legais não afetassem a legitimidade do processo, escaldado de obstáculo pelo qual passou após ser reeleito antecipadamente para mais um mandato na presidência da ALPB, ritual que foi contestado pelo Supremo Tribunal Federal. Entendeu, nesse episódio, que tudo pode ser feito dentro da Lei sem açodamento, mas com cálculo e atenção a hiatos que a própria Lei oferece em situações de duvidosa interpretação regimental ou constitucional. Tornou-se, aí, um especialista no que se denomina de “jogo de cintura”, só que, no seu caso, aprimorando dotes e lições no conhecimento dos meandros de questões que as conjunturas vivenciam. Até então, tem sido exitoso nas empreitadas.

Reeleito para mais um mandato de quatro anos como governador da Paraíba, João Azevêdo parece ter se convencido de que há concorrentes de talento e expressão não apenas na oposição mas dentro do próprio bloco governista que ele, eventualmente, comanda. Por várias vezes, o deputado Adriano Galdino mandou sinais indicando que estava “na área” e que possui um quinhão de poder que precisa ser respeitado – afinal, lidera um colegiado que, ao longo dos anos, foi acumulando espaços e que não abre mão das suas prerrogativas depois de ter ido tão longe. Galdino sempre foi tido como “sócio da governabilidade”, responsável pela aprovação de projetos do Executivo que não eram defendidos por outros deputados da base, íntimos da Granja, com o mesmo ardor e capacidade de articulação demonstrados por Adriano. O presidente da AL foi em busca de reconhecimento até em desabafos públicos mas esse reconhecimento nunca se expressou com o ardor desejado. Ele, então, pôs a faca nos dentes – e foi à luta. O resultado está aí.