Pesquisas mostram perda de força do bolsonarismo no Rio e em SP e fim da hegemonia do clã entre eleitores da direita

Gabriela Biló

Bolsonaro entrará no jogo para lutar contra o possível fiasco que seriam as derrotas amargadas não para políticos de esquerda, mas, sim, de nomes que hoje já podem vencê-lo entre os eleitores da direita.

O sinal de alerta está ligado no bolsonarismo, devido ao resultado da última pesquisa DataFolha, na semana passada, no Rio e em São Paulo. Os 9% de intenção de votos de Alexandre Ramagem (PL), contra 56% de Eduardo Paes (PSD), no Rio, e o avanço do coach Pablo Marçal (PRTB) contra o prefeito Ricardo Nunes (MDB), em São Paulo, jogam luz sobre um cenário que seria considerado inusitado há alguns anos: os votos da direita já não são apenas dos seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e as narrativas já não são controladas apenas pelo clã que centralizou votos deste segmento nas últimas eleições. Nas duas capitais mais importantes do Brasil, há o temor de que os candidatos apoiados por Bolsonaro não passem, sequer, para o segundo turno.

No Rio, de onde vem a família Bolsonaro, as pesquisas apontam a perda de força sobre o eleitorado conservador: Paes conseguiu apoio de lideranças evangélicas da Assembleia de Deus e da Igreja Universal, e tem crescido entre os religiosos. As igrejas, que foram um dos principais campos de apoio a Bolsonaro nas últimas eleições, têm tímida participação na campanha de Ramagem, que chegou a ter uma vice ligada à Universal do Reino de Deus vetada. Mas, mais do que a perda de apoios de políticos religiosos, as pesquisas indicam uma espécie de “voto mais crítico” do eleitorado conservador, que hoje aposta em outras opções, que não as indicações de Bolsonaro.

A campanha de Ramagem, entretanto, mira o segundo turno a partir da associação com Bolsonaro na propaganda eleitoral na TV e aposta que, caso passe, será “uma nova eleição, iniciada do zero”. De acordo com membros do marketing de Ramagem, a expectativa é que com as inserções midiáticas diárias, Ramagem chegue a 15% dos votos em setembro. A estratégia de campanha tentará “desconstruir” a imagem do atual prefeito e apontará a sua antiga ligação com políticos associados a atos de corrupção.

Entretanto, sabem que a missão não é simples: além de Paes gozar de boa popularidade, a avaliação é de que o atual prefeito mantém diálogo com os setores conservadores, possui bom arco de apoios partidários e, principalmente: possui domínio das redes sociais, um território que por anos foi usado com desenvoltura pelo bolsonarismo para se comunicar com os eleitores e criar narrativas que geravam votos.

O mesmo pode ser visto em Niterói, onde Carlos Jordy (PL) tenta se aproximar de Rodrigo Neves (PDT), que congrega apoios até mesmo de conservadores e religiosos. Nas duas cidades, Ramagem e Jordy devem contar com uma força-tarefa de apoio que irá da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro até o popular deputado federal Nikolas Ferreira, que vão turbinar as candidaturas.

Já em São Paulo, há a avaliação de que as narrativas e a postura belicosa trazidas por Pablo Marçal chegam a suplantar as falas mais radicais de Bolsonaro. O ex-coach, que ganhou notoriedade através das redes sociais, tem se valido justamente da imagem de anti-sistema, da qual Bolsonaro se valeu, e de injustiçado, a partir de decisões judiciais que limitam a sua atuação. O apoio de Bolsonaro ao prefeito Ricardo Nunes, com a indicação de um vice, portanto, não tem sido suficiente para congregar toda a direita, como acontecia em outros tempos.

Além de estar mais presente na campanha de Nunes, Bolsonaro também partiu para o ataque contra Marçal. Na perspectiva dele e da Executiva Nacional do PL, está a possibilidade de derrota nos dois principais colégios eleitorais do Brasil, ainda no primeiro turno. Muito além do apoio aos seus candidatos, Bolsonaro entrará no jogo para lutar contra o possível fiasco que seriam as derrotas amargadas não para políticos de esquerda, mas, sim, de nomes que hoje já podem vencê-lo entre os eleitores da direita.

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