PL foi pego de surpresa com anúncio de pré-candidatura de Flávio Bolsonaro

Parlamentares relataram que souberam da decisão pela imprensa e que nenhuma liderança do partido havia sido consultada

O anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência em 2026 não apenas surpreendeu o PL — ele desorganizou completamente as expectativas internas do partido. Parlamentares relataram que souberam da decisão pela imprensa e que nenhuma liderança do PL havia sido consultada ou sequer avisada de que Flávio seria lançado. A avaliação dominante entre dirigentes é de que o movimento foi conduzido exclusivamente pela família Bolsonaro, sem pactuação prévia e sem alinhamento estratégico com as siglas que compõem a base da direita.

O desconforto emergiu de imediato. Na noite de segunda-feira (8), durante a reunião na casa de Flávio com Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União Brasil), o clima foi descrito como de “constatação” — todos ali estavam tão surpresos quanto o PL. A percepção inicial, compartilhada por lideranças dos três partidos, foi a de que o gesto havia atropelado conversas em curso e colocado o bloco conservador em uma posição reativa.

Ao fim do encontro, Rogério Marinho verbalizou esse incômodo ao admitir que qualquer retorno imediato ao PL “não está no horizonte, nem hoje, nem amanhã”. Para ele, a movimentação exige tempo de maturação, especialmente porque as siglas ainda tentam compreender o propósito e a viabilidade da operação. “O anúncio do Flávio foi na sexta-feira, então haverá a necessidade de decantar esse processo, de as pessoas amadurecerem a ideia de que o PL tem sua candidatura. A partir daí, os partidos vão analisar”, afirmou.

A surpresa não ficou restrita às cúpulas partidárias. Na manhã desta terça, após visitar Jair Bolsonaro na prisão, o próprio Flávio reconheceu publicamente que o centrão não foi previamente comunicado. Questionado sobre o estranhamento, disse apenas: “ninguém vai tomar decisão agora”, sinalizando que a articulação ainda é incipiente e que o gesto de sexta-feira foi mais abrupto do que planejado.

Nos bastidores, dirigentes do PL classificam o episódio como mais um capítulo da estratégia da família Bolsonaro de impor movimentos ao restante da direita, obrigando partidos a reagirem a fatos consumados. A leitura é de que a pré-candidatura funcionou, neste momento, como um teste de força — e como tentativa de retomar protagonismo após semanas de desgaste jurídico e político.

A surpresa generalizada também pressiona o PL a justificar a decisão internamente. Lideranças do partido avaliam que o lançamento improvisado expôs a falta de coordenação.

Dirigentes do centrão, por sua vez, afirmam que o movimento pode aprofundar fissuras entre as siglas caso não haja negociação real nas próximas semanas. Por ora, a orientação é aguardar, medir o impacto e avaliar se o gesto foi apenas simbólico ou se se transformará em candidatura de fato. Como resumiu Marinho, é preciso “deixar decantar” — enquanto todos tentam entender o que, exatamente, a família Bolsonaro pretende.