Um dos mantras do Presidente Jair Bolsonaro na campanha vitoriosa de 2018, foi o combate à corrupção. Nos debates e durante todos os meses que antecederam à eleição, o Presidente prometeu que formaria um Ministério técnico, sem indicações políticas e que em nenhum momento entraria no jogo político, de se aliar ao Centrão.
Após a sua vitória, ao oficializar o ex-Juiz Sérgio Moro, como seu Ministro da Justiça, Bolsonaro demonstrava estar disposto a ser verdadeiramente combativo no combate à corrupção, na defesa das instituições e da Lava Jato.
No decorrer do mandato, o Presidente não cumpriu suas promessas de campanha, se aliando a todos aqueles que demonizava e criticava durante a sua carreira como Deputado.
Bolsonaro afirma categoricamente que durante o seu Governo, não ocorreram casos de corrupção, mas durante esses quatro anos no poder, vários escândalos se acumulam com clara participação do Presidente. Podemos mencionar, as Rachadinhas no Gabinetes dos seus filhos na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, o caso Queiroz, onde Fabrício Queiroz, um assessor e amigo pessoal de Bolsonaro, depositou vários cheques que totalizaram 89 mil reais, na conta pessoal da Primeira-Dama, Michele Bolsonaro.
A turbulenta saída de Sérgio Moro, do Ministério em 2020, que deixou o governo acusando o Presidente de substituir nomeados em cargos estratégicos da PF para blindar familiares e aliados de investigações, e principalmente às acusações feitas durante à CPI da Covid em 2021, que implicam ao Presidente e seus Ministros da Saúde, a criação de um “gabinete paralelo”, que junto com operadoras de plano de saúde, intimidaram médicos pelo uso de medicamentos sem comprovação científica.
Nessa matéria, vamos elencar os escândalos que cercam Bolsonaro e seu entorno, nesses três primeiros meses de 2022, e suas possíveis implicações na disputa pela reeleição em outubro.
Caso Jair Renan
Filho mais jovem do presidente Bolsonaro, Jair Renan Bolsonaro, é investigado em um inquérito que apura o pagamento de suposta propina por empresários com interesses na administração pública.
As suspeitas sobre Jair Renan envolvem a utilização da empresa de eventos dele, a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, para promover articulações entre a Gramazini Granitos e Mármores Thomazini, grupo empresarial que atua nos setores de mineração e construção e o Ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.
O grupo empresarial teria presenteado Jair Renan e o empresário Allan Lucena, um dos parceiros comerciais do filho do presidente, com um carro elétrico avaliado em R$ 90 mil. Um mês após a doação, em outubro de 2021, representantes comerciais, se reuniram com o Ministro Marinho. Segundo o ministério, o encontro, que também teve a participação de Jair Renan, foi marcado a pedido de um assessor especial da Presidência.
A PF investiga se, em novembro do ano passado, Renan Bolsonaro atuou para que o grupo empresarial conseguisse duas reuniões no Ministério do Desenvolvimento Regional para falar sobre um projeto de construção de casas populares.
As investigações ainda estão em curso, e o inquérito tramita em segredo de justiça.
Wal do Açaí
O Ministério Público Federal em Brasília entrou nesta semana, com uma ação de improbidade contra o presidente Jair Bolsonaro e sua ex-secretária parlamentar na Câmara dos Deputados Walderice Santos da Conceição, conhecida como “Wal do Açaí”.
Segundo a ação do Ministério Público, ela esteve lotada no gabinete de Bolsonaro durante mais de 15 anos, mas nunca viajou para Brasília nem exerceu qualquer função relacionada ao cargo.
Segundo o MP, a análise das contas bancárias de Walderice revelou uma movimentação atípica: 83,77% da remuneração recebida nesse período foi sacada em espécie, sendo que, em alguns anos, esses percentuais de saques superaram 95% dos rendimentos recebidos.
O MPF aponta que o presidente Jair Bolsonaro tinha pleno conhecimento de que Walderice não prestava os serviços correspondentes ao cargo e, mesmo assim, atestou falsamente a frequência dela ao trabalho em seu gabinete para comprovar a jornada laboral exigida pela Câmara dos Deputados, de 40 horas semanais, e, assim, possibilitar o pagamento dos salários.
O MP também afirma que, nesse período, Walderice e o companheiro, Edenilson Nogueira Garcia, prestavam serviços de natureza particular para Bolsonaro – em especial nos cuidados com a casa e com os cachorros de Bolsonaro na Vila Histórica de Mambucaba (RJ).
Durante o depoimento, o procurador questionou: “A senhora tomou posse aqui em Brasília? Como é que foi a posse da senhora?”. Wal do Açaí, então, responde: “Não, não foi não. Não foi, não foi em Brasília. Eu nunca fui, nunca fui a Brasília.”
Em argumento para esclarecer os motivos de Wal não vir a Brasília, Bolsonaro disse que, em média, os parlamentares distribuem “metade aqui [em Brasília] e metade fica no estado”, e que aqueles que não vem à capital federal tomam posse por procuração. “Ela nunca esteve em Brasília, estou confessando aqui. O processo de improbidade administrativa em cima dela e de mim, mais dela, coitada, uma pessoa humilde”, comentou o chefe do Executivo.
O Escândalo no Ministério da Educação
A Polícia Federal informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que abriu nesta sexta-feira 25 de Março de 2022, o inquérito para investigar o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, por suposto favorecimento de pastores na distribuição de verbas do ministério.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou em reunião com prefeitos que repassa verbas para municípios indicados por dois pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro.
O áudio da reunião foi obtido pelo jornal “Folha de S.Paulo”, que revelou o conteúdo da fala de Ribeiro na noite desta segunda-feira (21) em reportagem no site da publicação.
Os pastores a que o ministro se refere no áudio são Gilmar Santos e Arilton Moura. Eles não têm cargo no governo, mas participaram de várias reuniões com autoridades nos últimos anos.
Gilmar Santos é presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos (Conimadb). Arilton Moura também é da Assembleia de Deus.
Na semana passada, o jornal “O Estado de S. Paulo” publicou reportagem na qual informava que o Ministério da Educação tem um “gabinete paralelo” de pastores que controlam a agenda e a verba do ministério. O jornal afirmou ainda que Gilmar Santos e Arilton Moura têm trânsito livre no ministério e atuam como lobistas.
Segundo o jornal, desde o início do ano passado, o Ministério da Educação empenhou ou executou pagamentos de R$ 9,7 milhões nos dias seguintes aos encontros dos pastores com o ministro.
A investigação sobre a conduta do ministro Milton Ribeiro foi pedida ao STF pela Procuradoria-Geral da República. A ministra Cármen Lúcia autorizou a apuração e considerou os fatos narrados como gravíssimos.
Esses três casos desconstroem a tese do Presidente e dos seus apoiadores, ao afirmarem que durante os 4 anos de mandato, não ocorreram casos de corrupção no Governo Federal, às investigações estão nos seus trâmites iniciais, mas podem complicar a vida de Bolsonaro judicialmente, mas principalmente nas Eleições de outubro, onde esses temas deverão ser bastante utilizados por rivais de diferentes espectros políticos, que querem derreter a imagem do Presidente, perante a opinião pública durante a campanha.