Negra, transsexual e da periferia. Esta é Erika Hilton, primeira mulher trans eleita pelo estado de São Paulo para a Câmara dos Deputados. Aos 29 anos, a parlamentar do PSol conquistou 256.903 votos e, a partir de 1º de fevereiro de 2023, promete esquentar os debates sobre diversidade, inclusão e de luta contra o racismo e a homofobia no Congresso Nacional.
Natural de Franco da Rocha, município localizado na região metropolitana de São Paulo, Erika divide sua infância e juventude em dois momentos. As primeiras recordações são de um lar cercado por mulheres, as quais define como amorosas e trabalhadoras. A elas, atrela os valores que a transformaram na cidadã hoje conhecida por todos.
Mas os primeiros anos felizes deram espaço à intolerância. Por volta dos 14 anos, ao se descobrir transsexual, foi explulsa de casa. A mãe e a avó, que passam a adotar o que define como um “discurso fundamentalista”, a mandaram para Itu (SP), para ser criada por tios, ainda mais religiosos e conservadores. A família acreditava na “cura” da jovem por meio da fé.
Erika chegou a ser batizada, mas preferiu viver nas ruas a ter que abrir mão da própria essência. Sem oportunidades e sem apoio da família, teve que se prostituir, ainda na adolescência.
Anos depois, foi resgatada pela própria mãe que, arrependida da atitude, a procurou e incentivou para que retomasse os estudos. Apoiada pela família, Erika concluiu o ensino médio e ingressou no curso de pedagogia na Universidade Federal de São Carlos (UFUCar).
Na faculdade, conheceu o movimento estudantil e se tornou uma militante. Ao ter o nome social negado na carteira de transporte, organizou uma mobilização contra a empresa rodoviária. A ação chamou atenção da mídia e, além de conseguir a identidade reconhecida no documento, rendeu um convite do PSol para fazer parte da Bancada Ativista, onde foi eleita pela primeira vez como vereadora, a mais bem votada da história de São Paulo, em 2020.
Em dois anos no legislativo municipal, teve 16 projetos aprovados e atuou fortemente na luta por equidade para a população negra, no combate à discriminação contra a comunidade LGBTQIAP+ e pela valorização das iniciativas culturais jovens e periféricas.
Opositora ao governo de Jair Bolsonaro (PL), protocolou notícia-crime junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente derrotado, após declarações de que esteve em uma casa de prostituição na presença de menores de idade venezuelanas. A deputada eleita também recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o pedido para que Bolsonaro não utilizasse imagens de viagem presidencial à Londres, no Reino Unido, na campanha eleitoral sob alegação de abuso de poder econômico ao utilizar viagem oficial para “evidente palanque político”.
Como deputada eleita, Erika projeta suas ações na Câmara dos Deputados e pretende instaurar uma “CPI do governo Bolsonaro”.
Após eleita, ela se tornou um dos rostos da campanha do presidente eleito Lula (PT). Partiu dela um dos pedidos na justiça para que o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), liberasse o transporte público gratuito no dia da votação do segundo turno.