Todos os presidentes do Brasil até o ano de 2022 eram casados, e as primeiras-damas estavam sempre ao lado do marido eleito. A primeira-dama é a esposa do chefe do poder executivo, pode ser a mulher do presidente, governador e prefeito.
É interessante observar que desde a redemocratização até hoje, o nosso país teve sete primeiras-damas. Foram elas: Marly Sarnei, Rosane Collor, Ruth Cardoso, Marisa Letícia, Marcela Temer, Michelle Bolsonaro e Rosângela Lula da Silva (Janja).
O conceito de primeira-dama foi criado nos Estados Unidos, teoricamente, seu papel é desempenhar aquilo que seu marido, o presidente, não consegue por falta de tempo, liderando, por exemplo, campanhas de caridade e de voluntariado ou participando delas, a fim de ajudar os menos favorecidos. Pensamento bem machista, que coloca a mulher no lugar de sombra do marido.
Mas há primeira-dama que exerce o primeiro-damismo. De acodo com a pesquisadora de gênero e política, Dayanny Rodrigues, “o primeiro-damismo é um fenômeno político caracterizado por um conjunto de práticas exercidas por esposas de governantes em exercício no Poder Executivo. Pode ser apontado como estratégia, quando as primeiras-damas buscam legitimar a ideologia ou projeto político do esposo, mas também como tática, ao burlarem o plano político/ideológico proposto por quem está à frente do Estado. Esse fenômeno foi constituído e perpetuado sob o signo das hierarquias de gênero que marcaram a sociedade patriarcal característica da sociedade brasileira”, explicou.
Primeiras-damas como Ruth Cardoso e Marisa Letícia não eram só esposas dos presidentes, elas realmente exerciam o primeiro-damismo. Rurth teve o trabalho na assistência social reconhecido e respeitado até hoje. Era uma antropóloga bem reconhecida e foi uma das idealizadoras do protótipo do bolsa família.
Já outras primeiras-damas como Marcela Temer, representavam só a figura da esposa do presidente. Não contribuiam em nada para nenhumas áreas do governo. Ela inclusive foi alvo de questionamentos, por exercer uma figura muito passiva.
Dayanny acredita que primeiro-damismo é uma força que soma para o governo, mas ao longo do tempo colocou a mulher no papel de sombra.
“As primeiras-damas agiram e atuaram enquanto porta vozes do Estado, estrategicamente atuando em espaços, na grande maioria das vezes, atrelados a questão do cuidado, o que reforçou o estigma patriarcal e sexista dessa figura social. Assim, pode-se dizer que a atuação das primeiras-damas no decorrer da República brasileira sempre foi uma peça importante no jogo de xadrez na governabilidade de seus esposos. A não visibilidade dessas ações, em muitos casos, reflete justamente uma das características desse fenômeno em seu viés estratégico, que é uma atuação por trás dos holofotes, em segundo plano, deixando sempre o palco principal para que a figura masculina seja vista e reconhecida”, destaca a pesquisadora.
Michelle Bolsonaro começou atuante, principalmente no âmbito das pessoas com alguma deficiência auditiva. Mas ao longo do governo virou uma sombra de Bolsonaro, e acabou sendo uma coadjuvante no cenário politico. Já Janja, esposa de Lula, é uma socióloga, que tem lutas contra os diversos preconceitos e tem planos de trabalhar juntamente com o ministério da mulher e dos direitos humanos.
O machismo ainda é um grande vilão. A presidenta Dilma Rouseff foi uma chefe de estado comprometida, mas como não estava na sombra de um homem sofreu um golpe em 2016, sendo empeachmada.
A primeira-dama pode só ser a esposa do presidente, mas há aquelas que vão além.
“Alguns esperam e acreditam que as primeiras-damas devem ser apenas a esposa do presidente e ponto, cuidando da casa oficial, dos jantares, bailes (como muitas primeiras-damas fizeram), já outros acreditam, esperam e defendem que a primeira-dama pode e deve ir além, ocupando, inclusive, algum cargo oficial dentro do governo, como fez, de forma ilustre, Dona Ruth Cardoso”, explicou Dayanne.
Esse papel deve ir além, as mulheres precisam participar de forma ativa, para ajudar a melhorar o governo. A população ainda tem em mente que a primeira-dama deve ser aquela ‘bela recatada e do lar’, mas ela devem ousar e ir além. É o que sugere a pesquisadora de política e gênero.
“Penso que a figura social da primeira-dama ainda continua muito engessada e presa aquilo que já foi um dia, e que o pode vir ser um indicativo de atuação ou não da primeira-dama não é o “se ela pode ou nao”, mas qual o perfil daquela primeira-dama”, pontuou.