Recuperação econômica é conto-do-vigário para os pobre – Por Helena Chagas
Para a ampla maioria dos brasileiros, termos como PIB, Caged, Selic e IPCA são abstrações, uma sopa de letrinhas sem grande significado. Na prática, seus critérios para avaliar a melhora, ou piora, da economia são suas condições de vida: o carrinho vazio do supermercado, o sub-emprego, a situação de quem vive de bico – e ainda é chamado de “empreendedor” pelo governo – , a fome, a falta de acesso a serviços básicos como saúde e educação, por exemplo.
É por aí que se entende por que tem tudo para dar errado mais uma vez a nova onda da propaganda governamental em torno do crescimento trimestral de 1,2% do PIB e do declínio da inflação. É o mais recente balão “agora vai” dos articuladores da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro. Como os demais, tende a esvaziar e cair nas próximas pesquisas.
Indicadores de recuperação econômica costumam entusiasmar a mídia e setores que deles se beneficiam, ainda que a leitura completa do enredo mostre um crescimento artificial que dificilmente se sustentará em 2023, e um enorme rombo fiscal varrido temporariamente para debaixo do tapete. Mas quem trabalha por Bolsonaro — ou, ao menos, por um segundo turno para dobrar a espinha de Lula — propaga a narrativa de que os números da economia ainda vão fazer o presidente crescer nas pesquisas e, quem sabe, permitir a sonhada virada no segundo turno.
Essa estratégia ignora a obviedade de que crescimento econômico, independentemente de números, só é digno desse nome quando alcança o país como um todo, ou seja, as camadas mais pobres da população, e de forma consistente. Não é o que acontece quando a classe média pode festejar a economia na hora de encher o tanque do carro, mas os menos favorecidos continuam comprando alimentos muito mais caros no mercado – quando compram, porque não há notícia de mudanças na vida dos 33 milhões que vivem em estado de insegurança alimentar, um eufemismo para fome.
Nas atuais circunstâncias, a festejada recuperação econômica é um conto-do- vigário para os mais pobres.
Tudo indica que o discurso do “agora vai” trata-se, antes de tudo, de um teatro. Os políticos do Centrão e demais articuladores do Planalto sabem, assim como a torcida do Flamengo, que são ínfimas as chances de a rejeição presidencial de 55% retroceder, mais ainda numa velocidade tal que permita ao atual presidente, nos 26 dias que faltam para o primeiro turno, ou mesmo nos 55 que restam até o segundo, passar de pato manco a favorito.
Dificilmente o clichê de que o segundo turno é uma nova eleição irá se confirmar em 2022. Pelo andar da carruagem, Bolsonaro perderia hoje na segunda rodada até para Simone Tebet, conforme dados da pesquisa BTG/FSB desta segunda-feira.