Aliados de Bolsonaro preparam ofensivas com “cortes” para incitar horda contra ministros do STF, que terá segurança reforçada. Advogados se irritam com Eduardo Bolsonaro nos EUA, que complica estratégia de defesa
Último dia antes de Jair Bolsonaro (PL) sentar definitivamente no banco dos réus por organizar uma quadrilha criminosa para dar um golpe de Estado, esta segunda-feira, 24 de março, será de tensão e expectativa entre aliados e o clã do ex-presidente.
Bolsonaro e outros 7 aliados, que compõem o “núcleo crucial”, segundo a Procuradoria-Geral da República, da organização criminosa serão julgados a partir da manhã desta terça-feira (25) pela primeira turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que na primeira sessão de acatar a denúncia de Paulo Gonet.
Entre aliados próximos do ex-presidente, a análise é Cristiano Zanin, Flávio Dino, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Luiz Fux, que compõem a primeira turma, darão uma sentença unânime contra os membros da cúpula golpista.
Com a decisão, a partir da tarde sentarão no banco dos réus:
- Jair Bolsonaro, ex-presidente;
- Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
- Almir Garnier Santos; ex-comandante da Marinha do Brasil;
- Anderson Torres; ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal;
- General Augusto Heleno; ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência;
- Mauro Cid; ex-chefe da Ajudância de Ordens da Presidência;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
- Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil.
Crentes de que a quadrilha será denunciada, aliados do ex-presidente lamentam a transmissão ao vivo do julgamento e preparam uma ofensiva nas redes com cortes de falas dos ministros durante as sessões, que devem se estender até, pelo menos, a quarta-feira (26).
O objetivo é incitar a horda bolsonarista a sair às ruas. Diante desse quadro, o Supremo reforçou a segurança nos arredores da sede da corte, visto que há precedentes de ataques à corte.
O último ocorreu em 13 de novembro passado, quando Francisco Wanderley Luiz, que já foi candidato a vereador em Santa Catarina pelo PL de Bolsonaro, lançou explosivos contra o STF e morreu ao deitar sobre um artefato que explodiu em seguida.
Já Bolsonaro teria confidenciado a pessoas próximas que não deve acompanhar o julgamento, nem mesmo na TV.
Em meio à sessão, ele deve se reunir com parlamentares aliados para tentar centrar fogo no PL da Anistia.
Com Hugo Motta (Republicanos-PB) acompanhando Lula na viagem ao Japão, quem assume a Presidência da Câmara é Altineu Cortês (PL-RJ), fiel escudeiro de Bolsonaro, que pode tentar uma manobra para colocar o PL que favorece o ex-presidente em pauta – mesmo sem acordo entre as lideranças das bancadas.
Eduardo Bolsonaro
Outro fator de tensão nos bastidores do julgamento é a ofensiva de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra Alexandre de Moraes e o Supremo.
Após abdicar de seu mandato para se vitimizar foragido nos EUA, tem aumentado o tiroteio contra a corte. No sábado (22), o filho “03” de Jair Bolsonaro usou as fake news sobre a condenação a 14 anos de prisão da golpista Débora Rodrigues dos Santos, a “Débora do Batom”.
“Não há técnica jurídica na decisão de Alexandre de Moraes, há vingança, há sadismo, há ódio, há psicopatia”, escreveu Eduardo na rede X.
14 anos de prisão para uma mãe de dois filhos por ela ter escrito uma frase em uma estátua com batom é algo simplesmente inaceitável em qualquer país minimamente civilizado.
Não há técnica jurídica na decisão de Alexandre de Moraes, há vingança, há sadismo, há ódio, há… pic.twitter.com/id4Pqqs0sx
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) March 22, 2025
Ao menos três advogados de membros da organização criminosa golpista demonstraram irritação com a ação de Eduardo Bolsonaro à colunista Malu Gaspar, d’O Globo.
Segundo eles, os ataques de Eduardo às vésperas do julgamento “criam uma animosidade ainda maior entre o Supremo e os investigados” além de prejudicar o trabalho de advogados que buscam nos bastidores “distensionar” as relações com o ministro relator e tentam manobras jurídicas para postergar o julgamento.
Bolsonaro escalou os advogados Celso Vilardi e José Luis Oliveira Lima, que têm bom trânsito no judiciário, para a diplomacia no Supremo, mas os ataques de Eduardo teriam fechado as portas para a defesa, que já tinha conseguido se reunir com os presidentes da corte, Luís Roberto Barroso, e da primeira turma, Cristiano Zanin, além de Moraes.
“Isso cria um clima de animosidade com o STF e o relator. O ex-presidente Jair Bolsonaro também não tem uma postura muito conciliadora e isso nos causa prejuízos. É, na verdade, uma novela mexicana, e a gente não sabe qual será o próximo capítulo”, disse um dos advogados à jornalista d’O Globo.
“Se o Moraes acolher o pedido da defesa dos investigados agora, após as ameaças do Eduardo, fica parecendo um covarde”, emendou outro advogado.