Tarcísio radicaliza discurso em defesa de Bolsonaro e Gilmar Mendes reage: “Brasil não aguenta mais tentativas de golpe”

Governador de São Paulo atacou Alexandre de Moraes em ato na Paulista e defendeu a anistia; ministro do STF rebateu, destacando que não há “ditadura de toga” e que crimes contra a democracia não serão perdoados

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, elevou o tom em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro durante ato convocado pela direita neste domingo (7), Dia da Independência, na avenida Paulista. Às vésperas do julgamento do STF que deve condenar Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, o aliado atacou diretamente o ministro Alexandre de Moraes e pressionou o presidente da Câmara, Hugo Motta, a pautar o projeto da anistia.

“Não vamos mais aceitar que nenhum ditador diga o que a gente tem que fazer”, disse o governador. No encerramento do discurso, foi ainda mais incisivo: “Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes.”

Tarcísio, que já vinha articulando a aprovação da anistia na Câmara, aposta que a pauta pode ganhar força apesar da resistência dos presidentes do Legislativo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, chegou a se comprometer com um texto alternativo, que excluiria financiadores e organizadores da trama golpista — proposta rechaçada pela oposição, que defende anistia ampla, geral e irrestrita para beneficiar Bolsonaro.

O movimento ocorre em meio a críticas internas do bolsonarismo, inclusive dos filhos do ex-presidente, que acusam Tarcísio de usar o espólio eleitoral sem compromisso real. Para recuperar terreno e conquistar o apoio definitivo de Bolsonaro em sua possível candidatura à presidência em 2026, o governador tem radicalizado cada vez mais seu discurso. Ele já declarou que, caso a proposta de anistia não avance no Congresso, concederá indulto presidencial ao ex-chefe.

Pesquisas apontam Tarcísio como o nome com mais chances de vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma disputa direta. A aposta em desacreditar a Justiça, porém, é considerada arriscada: pode atrair o núcleo bolsonarista, mas afastar eleitores moderados.

Gilmar Mendes reage: “Crimes contra a democracia são insuscetíveis de perdão”

As declarações de Tarcísio geraram reação imediata no Supremo. O ministro Gilmar Mendes rebateu as críticas ao STF e afirmou que não há nenhuma “ditadura de toga”. Sem citar diretamente o governador, ele destacou que “o Brasil não aguenta mais sucessivas tentativas de golpe”.

“O que o Brasil realmente não aguenta mais são as sucessivas tentativas de golpe que, ao longo de sua história, ameaçaram a democracia e a liberdade do povo. É fundamental reafirmar: crimes contra o Estado Democrático de Direito são insuscetíveis de perdão! Cabe às instituições puni-los com rigor e garantir que jamais se repitam”, escreveu em suas redes sociais.

Gilmar ressaltou que o STF cumpre o papel de guardião da Constituição e que a verdadeira liberdade não nasce de ataques às instituições, mas do seu fortalecimento. O ministro ainda relembrou episódios recentes que marcaram o país: a condução da pandemia com milhares de mortos, a negligência de vacinas por autoridades, as ameaças ao sistema eleitoral e à separação de Poderes, os acampamentos pedindo intervenção militar, a tentativa de golpe de Estado com violência e destruição do patrimônio público e até planos de assassinato contra autoridades da República.