Emissários do presidente repassaram a informação a empresários americanos; por ter déficit comercial com os EUA, Brasil vai pro fim da fila
O Brasil deverá ser convocado em breve para negociar com o governo dos Estados Unidos sobre a sobretaxa de 50% aplicada contra produtos brasileiros, mas as tratativas ainda não têm data definida. A informação foi repassada por emissários da gestão de Donald Trump a empresários norte-americanos. Apesar de estar entre os países mais atingidos pelas tarifas — atrás apenas da China —, o Brasil ficou para o fim da fila de negociações por ter déficit comercial com os EUA, diferentemente de outros mercados prioritários para Washington.
O critério de ordem para as negociações, segundo empresários americanos com interlocução no governo, tem sido o saldo comercial: países que mantêm superávit em relação aos Estados Unidos, como União Europeia, Japão e Indonésia, foram priorizados. Em 2024, o Brasil registrou déficit de US$ 253 milhões com os EUA, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Esse desequilíbrio comercial teria levado o país a uma posição menos urgente nas tratativas.
Apesar da justificativa econômica, autoridades brasileiras veem um forte componente político por trás das medidas. A nova ordem executiva publicada nesta quinta-feira (31) pelo presidente Donald Trump escancarou essa percepção. No texto, o republicano condiciona a revisão das tarifas à adoção de medidas por parte do governo brasileiro contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Trump afirma que há uma “emergência nacional” no Brasil e acusa Moraes de “abuso de autoridade judicial”. O presidente dos EUA também denuncia uma suposta “perseguição política” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e sustenta que ações do governo brasileiro ameaçariam a “segurança nacional, a política externa e a economia americana”.
Cautela
A cobrança de alinhamento político com os interesses de Washington pegou a diplomacia brasileira de surpresa. Ainda que a publicação de uma lista de exceções com 694 itens nesta quinta tenha sido vista como um possível sinal de recuo por parte de Trump, o governo brasileiro mantém cautela. No Palácio do Planalto, a avaliação predominante é de que a postura americana tem sido unilateral e imprevisível, dificultando qualquer avanço real na negociação.
“Ainda não há o que comemorar”, diz um negociador envolvido nas conversas. Segundo ele, todas as decisões tomadas pelos EUA até agora foram feitas sem diálogo, o que reforça o temor de que novas medidas possam ser anunciadas de forma repentina.
O decreto com a lista de exceções também foi recebido com estranheza no Executivo. A publicação ocorreu de forma paralela às discussões e surpreendeu a equipe econômica. A expectativa era negociar essas exceções em um segundo momento, após uma definição sobre a alíquota geral e o prazo de vigência do tarifaço — que estava previsto para entrar em vigor já nesta sexta-feira (1º).
Iniciativas positivas
Apesar das dificuldades, o governo brasileiro avalia como positivas as iniciativas tomadas até o momento, como as teleconferências conduzidas pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, a visita de senadores brasileiros a Washington e o encontro do chanceler Mauro Vieira com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio.
A expectativa agora é que, mesmo estando no fim da fila, o Brasil seja chamado nas próximas semanas para uma rodada de negociações formais com os EUA — ainda que sob forte tensão política e sem garantias de que as tarifas de 50% serão de fato revistas.