Vítimas de atirador bolsonarista são veladas sob forte comoção

“Nunca vi Pedro brigando com ninguém”, diz prima de jovem que morreu comemorando a vitória de Lula. Menina de 12 anos também não resistiu aos ferimentos e faleceu. No momento do atentado, bolsonarista portava uma pistola 9 mm, uma pistola 380, 15 munições nas armas, dois carregadores com 17 munições de 9mm e outro com 15 munições de 380. Na casa dele foram encontrados um rifle, mais duas pistolas e 500 munições de diversos calibres

Inconformado com a derrota de Jair Bolsonaro (PL) na eleição de domingo, Ruan Nilton da Luz, 36, saiu de casa armado na noite de 30 de outubro e descarregou uma de suas armas de fogo ao se deparar com pessoas comemorando a vitória de Lula em Belo Horizonte (MG).

Quatro pessoas foram atingidas e duas morreram: Pedro Henrique Dias Soares, de 28 anos, e Luana Rafaela Oliveira Barcelos. A menina de 12 anos estava internada em estado grave, mas não resistiu e faleceu nesta quinta-feira (3).

Amigos e familiares das vítimas estão inconsoláveis. “A gente estava em uma comemoração entre família. Meu sobrinho estava cantando ‘é Lula, é Lula’, porque ganhou. O atirador [Ruan Nilton] simplesmente saiu atirando porque o Lula ganhou. O cara já chegou atirando”, disse a tia de Pedro, Amanda Dias de Paula.

O bolsonarista Ruan Nilton da Luz foi preso horas após cometer o atentado. No carro dele a polícia encontrou uma pistola 9 mm, uma pistola 380, 15 munições nas armas, dois carregadores com 17 munições de 9mm e outro com 15 munições de 380. Na casa do bolsonarista foram encontrados um rifle, mais duas pistolas e 500 munições de diversos calibres.

Em sua defesa, Ruan Nilton que bebeu demais, que tem ‘problemas de ansiedade’ e que estava sem tomar remédio havia já um mês. O atirador é um dos CACs de que Bolsonaro e os homicidas potenciais Brasil afora tanto se orgulham.

Sinônimo de tranquilidade

“Nunca vi o Pedro brigando na vida”, conta a prima dele, Victoria Dias. “Como a namorada dele já falou, Pedro não matava nem barata, porque tinha medo.”

A convivência com divergentes era tão tranquila que no dia da votação, mesmo diante de uma das eleições mais polarizadas da história do país, parentes e amigos de convicções políticas distintas reuniram-se na casa de uma amiga comum para um churrasco. E era assim que, independentemente dos números digitados nas urnas mais cedo, todos aproveitavam o domingo quente em Belo Horizonte (MG).

Filho de pais cruzeirenses, Pedro era Galo de coração. Ao contrário de parte da família, considerava-se “um cara dos direitos humanos”. Suas preferências, no entanto, nunca foram uma questão para o jovem, que não se excedia nem no futebol nem na política.

Isso era tão claro que, conta a amiga Marcela, dias antes da eleição, Pedro posara fazendo o “L” ao lado de outra amiga, bolsonarista, que fazia o 22 com as mãos. Na legenda da foto, escreveu “inimigos jamais”. “Pedro não via a oposição política como uma oposição na vida real. Ele tinha amigos cruzeirenses e bolsonaristas e se dava bem com todo mundo”.

Formado em Direito, Pedro trabalhava como entregador enquanto estudava para tentar passar em um concurso público. “Mesmo ele sendo um cara da paz, um cara que respeitava as ideias de todo mundo, suas ideias não foram respeitadas”, lamenta Marcela.

Entenda o caso

Amigos e familiares estavam reunidos na casa de Pedro Henrique para acompanhar a apuração. Às 19h10, quando praticamente todas as urnas haviam sido computadas, deu-se como definida a eleição — e Pedro alegrou-se como os outros 50,2% de eleitores mineiros que escolheram Lula presidente. Caía uma chuva e o grupo decidiu abrir o portão da garagem da casa, no bairro de Nova Cintra, para festejar.

Pouco antes das 20h, Ruan Nilton da Luz saiu fortemente armado de sua residência na Região Oeste. Saiu atirando. Suas primeiras vítimas foram duas mulheres que estavam comemorando a vitória de Lula próximas à avenida Tereza Cristina.

Na rua seguinte, encontrou a garagem aberta onde Pedro e três amigas comemoravam gritando o nome do presidente eleito. Sem dizer palavra, disparou contra o grupo.

Pedro Henrique foi velado e enterrado em Contagem (MG) na terça-feira (1º), véspera do feriado de Finados. O velório de Luana aconteceu nesta sexta-feira (4), no bairro Vila Imperial, Região Oeste de Belo Horizonte.

Enquanto tantos eleitores do candidato Jair Bolsonaro manifestam nas ruas seu “luto” pela derrota, familiares e amigos do jovem assassinado esperam por justiça. “Quem realmente está de luto é minha família”, diz Victoria.

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