Por Felipe Gesteira
Há uma tendência nos trabalhos legislativos em se aprovar homenagens de forma pouco cuidadosa. Funciona quase como uma vista grossa corporativista, onde o parlamentar evita impedir a comenda concedida pelo colega para que no futuro o seu afago não seja inviabilizado. É grave, no entanto, quando um membro do Legislativo propõe uma homenagem absolutamente descabida, como aconteceu ontem (16) na Câmara Municipal de Campina Grande (CMCG), que aprovou batizar com o nome do guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, um nova avenida e uma praça da cidade.
A homenagem é incabível não só pela ausência de qualquer contribuição do autodenominado filósofo, morto em janeiro deste ano, mas também pelo desserviço à sociedade que ele propunha ao difundir seus ideais de negacionismo à ciência, à política e à boa convivência em sociedade. Além de ter servido como base de sustentação ideológica do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus apoiadores, Olavo de Carvalho era contrário às medidas de enfrentamento à pandemia de covid-19, às vacinas, e questionava até mesmo o formato do planeta Terra.
No momento em que o Poder Legislativo aprova tal homenagem, não é apenas o autor da proposta, vereador Waldeny Santana (União) quem referenda a loucura, mas todos aqueles que votaram a favor. Seriam os vereadores de Campina Grande loucos e inconsequentes como era Olavo de Carvalho ou apenas oportunistas e irresponsáveis?
Fato é que a loucura não ressoou em uníssono. Houve um ponto de lucidez na voz da vereadora Jô Oliveira (PCdoB) em meio à insensatez coletiva do Legislativo campinense. Jô votou contra as duas propostas, da avenida e da praça. Seu voto não foi suficiente para impedir o inconveniente imposto pelos parlamentares à cidade, mas mostrou que há resistência no meio de tantos bobos.